o riachense

Segunda,
09 de Dezembro de 2024
Tamanho do Texto
  • Increase font size
  • Default font size
  • Decrease font size

António Mário Lopes dos Santos

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF

Nem bom vento nem bom casamento

Não creio que o PS tenha aprendido algo com a sua passagem pela oposição. Manuel Alegre recordou que as suas incongruências levaram Cavaco Silva à presidência da república. Mas, quando se vêem certos ditos socialistas a mandar bocas sobre a possível candidatura de Sampaio da Nóvoa, chamando-lhe um terrível esquerdista, percebem-se as razões por que numa lista VIP que corre na Internet, muitos socialistas preenchem altos cargos, grandes reformas, outras benesses. Não defendo a candidatura de Sampaio da Nóvoa, cada coisa a seu tempo. Como não me vejo a votar no partido socialista.

Fui professor desde 1962 e depois de 1974 até 2000, geri mais de duas dezenas de anos uma Escola Secundária, onde defendi, sempre, a gestão democrática, a autonomia escolar, uma política educativa centrada no aluno, na sua autoformação, capacidade de crítica, direito de opção, relacionada com o meio, com o percurso discente, com o objectivo final: um ser capaz de intervir activamente na busca dum caminho, quer no país, quer no mundo. Houve sempre, nos ministérios socialistas e sociais-democratas, um abafar legislativo da gestão democrática, uma defesa de directores nomeados pelo poder central, um transformar a educação num resultado quantitativo, saído dum exame final com objectivo restritivo de entrada no ensino superior elitista e segregativo, centralizado nas principais cidades do país, sem quaisquer condições de continuidade para os filhos dos trabalhadores, operários industriais ou agrícolas.

Saí, pela reforma, do ensino, em 2000, com a noção dum recuo em relação a 1975 e 1976, num regresso a uma mentalidade de facção, muito próxima dum ensino anterior à própria reforma Veiga Simão. O que hoje existe, a escola portuguesa coeva, não passa dum arremedo dum neo-fascismo pseudo democrático, onde o professor tem o seu destino traçado da forma como o director simpatiza ou não com o seu trabalho, a sua dedicação, o seu Yes Man. A escola que hoje existe, regida pelo empreendorismo da competitividade, a minha é melhor do que a tua, baseada em falsos conceitos de teórica igualdade de meios e métodos, não passa dum embuste com que o poder político intenta domesticar o ensino aos seus objectivos de gestão política da sociedade.

Aprendi, desde Sottomaior Cardia, passando pelos sucessivos ministros e ministras e seus derivados regionais, que a Escola e o seu futuro tem pouco ou nada a ver com as políticas centralizadoras. Os resultados escolares, o número de desistências, a selectividade do ensino superior, a inexistência dum ensino médio ligado à vida profissional, o grau zero de empregos pós-cursos, a desigualdade de investimento na ciência, na cultura, na arte, no apoio ao prosseguimento de estudos, são a folha de serviço dos governos socialistas e sociais democratas desde o 25 de Novembro, que se encaminha para uma regressão a uma escola autoritária de má memória. Sampaio da Nóvoa até é um dos grandes especialistas da Educação, talvez daí o complexo do mau aluno que os empreendedores ditos históricos do PS têm com o que lhes aponta a nenhuma inocência transparente das suas opções de interesse, mais do que classe. Os negócios, senhores os negócios, mandam muito! 

O meu voto dificilmente seria socialista, porque com esse partido aprendi a existência de muito político parecido com José Sócrates, escondido atrás do seu cartão para usufruir de privilégios que lhe deram, em poucas dezenas de anos, fortunas não declaradas, cargos e carreiras não permitidas a qualquer cidadão, saídas pós-profissionais resultantes das contrapartidas que criaram de forma arbitrária e corrupta com o abuso do poder, sem que a justiça alguma vez lhes fizesse frente.O que eu considerava ser a política de direita, arrebanhou muita gente que se instalara no centro com a capa protectora duma esquerda pluralista . Hoje, a denúncia nalguns órgãos de informação não passa da ponta emersa dum icebergue de que os caminhos dos fundos comunitários é a parte imersa e invisível -mas que existiu e existe - duma realidade em que cada camada cobre outra e assim sucessivamente, ante a passividade da imagem da justiça dos três macaquinhos da estatuária popular: cego um, surdo o outro, o terceiro mudo.

Lutarei, darei o meu a apoio a uma política de esquerda, onde, apesar de muito cepticismo, incluo parte do Partido Socialista. Mas, com ou sem ele, o caminho do futuro passa pelo abandono da mentalidade sectária, à esquerda, da recusa de qualquer tipo de controleirismo, das listas de nomes da confiança dos patrões dos partidos, os padres laicos das igrejas partidocráticas.

Portugal é um país pequeno, com um grande defeito - um umbigo enorme. E uma ignorância resignada que se lhe pegou ao tecido da alma desde a Contra-Reforma jesuítica, do século XVi aos nossos dias, e que se agravou, desde o 28 de Maio ao 25 de Abril.E hoje, perto dos quase 41 anos duma democracia sui generis, não cortou senão na aparência os cordões umbilicais que o transformaram num dos povos mais atrasados da Europa, em desenvolvimento, em direitos democráticos, em identidade. Deve esse atraso, esse permanente divórcio entre o real , o imaginário e a credulidade, aos partidos do arco da governação. Mas não só : deve-o à sua própria apatia. Podem tratá-lo mal, sem nenhuma dignidade, na escola, no hospital, no fisco, nos centros de emprego, nas juntas médicas. Come e cala. Pão e circo é tragédia latina, há mais de dois mil anos.

Em Setembro tudo ficará mais ou menos na mesma. Para nosso mal, dos nossos filhos, dos nossos netos. O PS não desiste de ser o que é, nem mesmo com a imagem dos partidos socialistas a nível europeu como uma fotografia do que o espera, no futuro, se não abandona aquela estranha forma de arranjo político que é o jogo do empurra supervisionado pelos seus quatro padrinhos históricos: Inglaterra, Espanha, França e Alemanha.

9 de Abril de 2015
Este endereço de e-mail está protegido de spam bots, pelo que necessita do Javascript activado para o visualizar

António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt

Actualizado em ( Quinta, 09 Abril 2015 14:21 )  
{highslide type="img" height="200" width="300" event="click" class="" captionText="" positions="top, left" display="show" src="http://www.oriachense.pt/images/capa/capa801.jpg"}Click here {/highslide}

Opinião

 

António Mário Lopes dos Santos

Agarrem-me, senão concorro!

 

João Triguinho Lopes

Uma história de Natal

 

Raquel Carrilho

Trumpalhada Total

 

António Mário Lopes dos Santos

Orçamentos, coisas para político ver?
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária