Carlos Manuel Pereira
Na primeira metade do séc. XIX para baptizar 96% dos homens, de um total de 443 indíviduos, foram usados apenas 8 nomes distintos, Manuel (129), José (112), António (49), Joaquim (48), Francisco (34), João (25), Luís (18) e Feliciano (10) e os restantes 4% foram distribuidos por 14 nomes diferentes, com 2 casos cada, Alexandre, Jerónimo, Gregório e Guilherme, e ocorrendo apenas uma vez, Tomás, Jacinto, Ambrósio, Jorge, Custódio, Augusto, Eduardo, Agnelo, Rodrigo e Sebastião. Se pensarmos que de costume se acrescentava ao nome próprio apenas um apelido de família, será fácil adivinhar que o resultado era uma constante repetição de nomes. Para resolver o problema acrescentava-se uma alcunha ou, caso esta não existisse, recorria-se ao nome da mulher ou da mãe. Para complicar as coisas um pouco mais, acontece que no séc. XIX a maioria das mulheres nem sequer usava um apelido de família. Vamos ver alguns exemplos de como os nossos avós se serviram dos nomes das suas mulheres para criarem nomes distintos.
- Do casamento de Manuel Martins e Rita Gouveia (1784), nasceu uma filha de nome Maria que, ao tempo do seu casamento com Manuel Rodrigues, disse chamar-se Maria Rita . Os filhos viriam a adoptar o sobrenome "Rodrigues Rito", usando a variante masculina do nome da mãe.
- Os filhos de António Gonçalves e Leonor Maria (1823), ele da Caveira e ela da Quinta de Cima, ficaram conhecidos por "Gonçalves da Leonor", mais uma vez por aquisição do nome próprio da mãe. Por curiosidade, os filhos de José Gonçalves, irmão do dito António, que casou com Maria do Rosário , foram apelidados de "Gonçalves Triguinho".
- Os meus bisavós Manuel Oliveira e Clara do Rosário (1866) foram outro exemplo de como um nome menos comum pode ser uma boa solução. Ele viera das Rendufas e ela, àquele tempo nos Riachos, usava um nome raro e ele passou a ser conhecido simplesmente por Manuel da Clara. A identificação era perfeita, de modo que os seus descendentes esqueceram o apelido Oliveira e adoptaram o "da Clara".
- Naquela altura, o apelido Lopes era o mais usado entre nós, sendo conhecidas várias alcunhas que serão detalhadas noutra oportunidade. Entretanto vamos ver apenas os casos dos descendentes de Manuel Lopes e Sebastiana Nunes (1790) que tiveram uma notória tendência para usarem os nomes das suas mulheres:
1- Manuel Lopes e Rosária dos Santos (1816), com dois filhos do mesmo nome, a saber, Manuel, casado com Maria da Conceição Barrosa (1846), chamado "Lopes Barroso", e Manuel, casado com Maria da Conceição (1863), apelidado "Lopes da Conceição".
2- Joaquim Lopes e Maria Teresa (1828), os filhos Manuel e José a usarem o sobrenome "Lopes da Maria Teresa". Este parece ser demasiado complicado para passar à posteridade.
3- Francisco Lopes e Maria da Trindade (1822), o filho Manuel usou o apelido "Lopes Trindade".
4- José Lopes e Benedita da Encarnação (c.1832), o filho Joaquim, bem como os netos Manuel, casado com Francisca Sousa (1896), e Joaquim, casado com Emília Serra (1898) , usaram o cognome "Lopes Benedito".
5- Manuel Lopes e Catarina Maria (1838), ele e os filhos usaram o apelido "Lopes da Catarina", que terá vingado na forma popular da alcunha "Catrino".
Por curiosidade, uma irmã da sobredita Sebastiana Nunes, Catarina de Jesus, casada com Manuel Pereira (1774), foi progenitora de vários ramos de Pereiras, a saber, Farinha, Singeleiro, Narigão, do Cego, da Véstia, Poupa e Catrino. Se considerarmos que estes Lopes e estes Pereiras eram primos carnais e que, no período aqui tratado, estavam representados em cerca de 40% das famílias, será fácil perceber porque é que me atrevo a dizer que SOMOS TODOS PRIMOS.
1 - A Rita Gouveia, apesar de ter vindo das Marruas, era descendente do meu 7º avô António Gomes.
2 - Rita é diminutivo do nome latino margarita, que nós dizemos hoje margarida.
3 - A Leonor era irmã do meu tetravô Francisco Gomes.
4 - A Maria do Rosário era filha de Luís Pereira, irmão do meu tetravô Manuel Pereira.
5 - Pais de João Serra, conhecido pegador de toiros.