Ameaçam fechar-te o hospital, povo, e tu ficas-te?
Era Bom Poder Desenhar A Escrita do Tempo
Alguns dos mais graves problemas do concelho estão a emergir neste momento de crise, em que se adivinha também a preparação eleitoral, para as autarquias, de Setembro.
A CDU, ultimamente, trouxe a lume a situação do Hospital Distrital de Torres Novas, muito mais grave do que a maioria da população pensa.
Aliás, algo que me perturba é que, passadas tantas décadas, eu não conheço os torrejanos (ou conheço-os bem de mais). Passam a vida a lastimar-se do mau funcionamento dos serviços públicos, mas não trocam uma telenovela por um protesto. Basta um cheiro a barraca de feira, chouriça assada, cerveja e vinho, numa festa mediática, e lá se vai a revolta contra o ordenado baixo, ainda que, como é do vulgo, quem quer festa sua-lhe a testa.
O Hospital, os centros de saúde, o sistema escolar de agregação de escolas e das freguesias, o abandono do PDM, são (não os únicos) dos péssimos exemplos que o governo autárquico socialista nos legou, nestes vinte anos de desgovernação totalitária, e nem uma palavra pública, uma participação na recusa.
Aliás, verifique-se o pendor anti-democrático da gestão socialista, assente na alteração da periodicidade das reuniões públicas da Câmara, que, desde, a vitória do liberalismo, em 1834, até à direcção actual, no último quartel do século passado, sempre reuniu, de forma pública, semanalmente, só com algumas anomalias na época fascista. O PS introduziu as sessões privadas, as reuniões públicas mensais, e nas primeiras, a resolução dos assuntos mais importantes. As populações, que chegaram a ter – bons tempos - sessões públicas em directo na Rádio Local, perderam esse contacto e dos temas que importam ao concelho, só surgia em público o que constava do foguetório dos programas da autarquia, com fotografia dos autarcas.
O que chegou aos nossos dias desta gestão desligada do povo? Uma realidade de abandono e de frustração, uma dívida galopante para quem vier depois que a pague, e um silêncio absoluto dos militantes, votantes e apoiantes, como numa ditadura do poder pessoal.
As rotundas e as feiras lavaram-lhes o cérebro, as grandes superfícies comerciais esvaziaram-nos os bolsos, o empreendorismo trouxe-nos a ruína do pequeno e médio comércio, da pequena e média produção agrícola, das pequenas e médias indústrias, dos cafés, dos restaurantes, o esventramento predial e o abandono cresceram nos bairros tradicionais e por todas as freguesias. O associativismo, por sua vez, perdeu muita da sua capacidade de defesa do património imaterial das populações. Procurou destruir-se um património das freguesias rurais, encerradas as suas escolas, os seus postos médicos, eliminadas as suas unidades de gestão multicentenárias.
Que título merece uma hecatombe destas?
O Hospital vai fechar, senhora população? Em Dezembro?
Durante anos, a Comissão Unitária da Saúde do Médio Tejo alertou para o esvaziamento do Hospital de Torres Novas, conhecido pelo de Rainha Santa Isabel. Que fez o PS local? Nada. E no ano da sua morte anunciada, a direcção socialista autárquica lançou uma festa em nome da rainha esposa de D. Dinis. Cinismo? Hipocrisia? Que conclusão tirar dum partido que, gerindo a Câmara há vinte anos, nunca publicou um comunicado, nunca lançou um protesto, nunca alertou o concelho para a perda duma das suas maiores conquistas de Abril?
Pelo contrário, e o PCP denuncia-o no seu comunicado recente, sempre alinhou com as directrizes que os Ministérios da Saúde de José Sócrates e Passos Coelho, determinaram para a unidade hospitalar do Médio Tejo.
Quem analisar os números dos três hospitais, de 1975 a 2005, no seu exercício estrutural, em todas as suas valências, não conhece outras razões para se destruir o que crescia e tinha prestígio (Torres Novas), reanimando o que estava anémico e era artificial (Abrantes), ou foi injectado e ressuscitado como Lázaro da morte (Tomar), senão através das influências das personalidades maçónicas dos partidos do PS e do PSD, dessas localidades, com influências nos gabinetes de todo o género onde se cozinham os destinos nacionais. Esses dois municípios empenharam-se, por todos os meios, na defesa dos seus interesses locais, ao contrário do de Torres Novas, mais preocupado com a imagem e o empreendorismo dos fundos comunitários e as relações (?) com Cabo Verde e Timor. Tudo isto é o essencial da herança legada, na sua defesa do empreendorismo, a gestão de vinte anos da autarquia de maioria absoluta socialista. Torres Novas regrediu, na sua qualidade de vida, no desenvolvimento, no emprego, nas perspectivas de futuro, na manutenção do edificado com a miragem dos fundos estruturais, a algo muito semelhante ao que existia antes do 25 de Abril.
Mas, não creio que o hospital feche definitivamente em Dezembro. Pelo que consta, já foi visitado por gente do capitalismo financeiro internacional. As seguradoras, aliadas ao capital bancário, ficarão por tuta e meia com um edifício colocado em zona estratégica do Ribatejo, para a inauguração dum hospital privado, a ser comparticipado pelo Estado, para gáudio e lucro dos mercadores e prejuízo dos direitos democráticos das populações à saúde pública?
Só por isto, pela incúria, pela cumplicidade, pelo desinteresse em relação aos direitos da população, o PS mereceria levar um enorme recusa, de protesto, no concelho, nas eleições autárquicas.
17 de Julho de 2013
António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt