Os Casais dos Castelos

Somos todos primos
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Carlos Manuel Pereira
Era uma vez um homem que vivia no Casal do Riacho

Diz Artur Gonçalves na sua obra Mosaico Torrejano1, “Estão os Casais dos Castelos situados actualmente na freguesia de Riachos e antes na de Sant´Iago. Pluralização de Casal do Castelo, que deve seu nome ao facto de naquele sítio ter existido em remotas eras um castelo, cuja origem se ignora... O povo diz comummente Casais Castelos, suprimindo a preposição, como faz a Casais Galegos, Casais Romeiros, etc.”.

A referência mais antiga respeitante a estes Casais, diz que “Aos dezasseis dias do mez de Janeiro de mil e seis centos e setenta e oito anos faleceo Emgracia Rodriguez viúva de Manoel Fernandez Castello morador no espragal no cazal do Castello...”.
 
Vamos considerar que esta família foi a fundadora da povoação ao estabelecer aí um casal que, naturalmente, adoptou o nome do seu primeiro proprietário, para concluir que afinal o castelo que existiu, em remotas eras, no sítio desses Casais foi o Manuel Castelo2, e, ao longo dos tempos, à medida que se sucederam as gerações dos Castelos, os registos foram-lhe chamando Casal do Castelo, Casal dos Castelos e Casais dos Castelos, o que parece ser uma sucessão pura e simplesmente lógica. De facto, desde 1678 os Castelos mantiveram aí vários ramos descendentes da família “fundadora” e, apesar de na segunda metade do séc. XIX ter ocorrido uma significativa transferência de famílias para o lugar dos Riachos, no início do séc. XX os Castelos estavam representados em pelo menos 12 das quase 40 famílias residentes nos Casais. Entretanto o lugar já servia de referência no mapa dessa época, como comprovam registos do tipo “Casal de Marcos Ferreira3 dos Casais dos Castelos” ou “Casais Redondos dos Casais dos Castelos”.

No texto anteriormente publicado com o título “Os ricos, os remediados e os pobres desalmados” refere-se a existência de dezenas de propriedades que ficaram vinculadas à manutenção da capela do tal fidalgo Henrique de Sousa com obrigação de lhe rezarem pela alma para todo o sempre.Ora na sequência de pesquisas relacionadas com o dito fidalgo, surgiu um documento4 datado de 1860 que refere essas propriedadescom os diversos casais instalados nelas, e que se estendiam dos Casais Castelos até aos casais das Vaginhas (no centro do Entroncamento) e outros a Nascente e a Sul do lugar dos Riachos. Na maioria dos casos, à semelhança do Casal do Castelo, tomavam o nome, ou alcunha, do seu fundador certamente por não existirem nesses locais outras referências antes conhecidas. Assim surgiram várias designações:
 
Casal do Seco (1668)5, Casal da Formiga ou dos Formigos (1670), que foi da Maria Formiga.Casal do Farinha (1672), junto do lugar dos Riachos (o apelido Farinha é um dos mais antigos no Espargal), Casal de João Jorge (1692), Casal de Bernardo Reis (1696), Casal do Maricas ou do Desbarbado (1671),Casal do Magro (1690) e Casal de Marcos Ferreira Soares (1751).Apenas em tempos mais recentes, surgem nomes como Casal das Flores (1896) ou Casal da Amendoeira (posterior a 1910).

O referido documento refere-se a um contracto celebrado em 1860 entre o Duque da Terceira, herdeiro de Henrique de Sousa, e José Farinha Relvas de Campos, da Golegã, que assim passou a ser dono de todas as propriedades da dita capela de que faziam parte todos os casais aqui mencionados, para além de outros bens.
 
Por curiosidade,o caminho-de-ferro, com a estação incluída, desde o pontão no campo das Cordas até à estrada da Malã, corre sempre por terras pertencentes a vários dos casais enumerados, por outro lado a história da CP diz que o Entroncamento se formou em 1864, quando aí se fez a junção entre as linhas do Norte e do Leste. Coincidências... 
 
1 Artur Gonçalves, Mosaico Torrejano, Torres Novas, 1936, 3ª ed., p.217.
2 Este Manuel Fernandes Castelo, meu 9º avô paterno, tinha mais de 600 descendentes na freg. de Riachos no fim do séc. XIX.
3 Os registos referem sempre “Casal de Marcos Ferreira” ou “Casal de Marcos Ferreira Soares” e não o nome “Casal Marques Ferreira” actualmente utilizado.
4 Torre do Tombo, pesquisa online: http://digitarq.dgarq.gov.pt, Código de referência PT/TT/MC/2/224, Morgados e capelas, Núcleo Antigo 224 e 225.
5 Entre parêntesis indica-se a referência mais antiga encontrada nos Reg. Paroquiais da freguesia de Santiago.