Filarmónica reaviva geminação

Quarta, 04 Maio 2011 12:01 Riachos
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Franceses despediram-se a chorar

A banda trouxe a Riachos a sua congénere de Notre Dame de Bondeville para uma semana de convívio e partilha cultural. As famílias de acolhimento foram inexcedíveis deixando os franceses muito impressionados. O processo de geminação não vai estagnar, pelo menos por vontade da Filarmónica que tem já agendado um novo intercâmbio, desta vez em França.  A geminação de Riachos com Notre Dame de Bondeville, protocolada em Maio de 1997, parece estar aos poucos a ganhar nova dinâmica. Este intercâmbio, cujas relações bilaterais começaram em 1989 com o convite ao Clube Atlético Riachense para participar num torneio de futebol, levou já oito vezes a cultura riachense à Normandia, e os franceses até nós em seis ocasiões.
No entanto, as coisas andaram um pouco esquecidas, até que em 2007, quando se comemorou o centenário do clube de futebol de Bondeville e o 10.º aniversário da geminação, a Junta de Freguesia e o Atlético foram convidados a participar nos festejos. Foi o clique que fez reactivar a geminação. Em Maio de 2009, por ocasião do 25.º aniversário da elevação de Riachos a Vila, foi a vez de três equipas de futebol jovem francesas participarem no torneio do Atlético, e agora, em 2011, a banda riachense recebeu a sua congénere para um intercâmbio musical.
E, ao que parece, com ou sem apoio autárquico, a Filarmónica de Riachos irá retribuir a visita na Páscoa do próximo ano, dando continuidade ao intercâmbio entre os dois agrupamentos musicais e reforçando a geminação.
A Orchestre d’Harmonie de Notre Dame de Bondeville, acompanhada pelos vereadores da cultura e do desporto do município normando, chegou a Riachos a 17 de Abril, ficando por terras ribatejanas até dia 24. Como é habitual neste tipo de intercâmbios, os visitantes foram acolhidos em casas de família dos sócios, músicos e amigos da banda riachense. Durante a estadia, visitaram Fátima, Nazaré, Lisboa, Golegã, Torres Novas e claro, o Museu Agrícola de Riachos, coleccionando recordações de terras lusas.
A visita também se destinava ao enriquecimento musical dos elementos de ambas as bandas, que ensaiaram e actuaram em conjunto, na Golegã e em Riachos.

Jovens mensageiros da cultura

O maestro da banda francesa, Remy Metayer, veio a Riachos pela terceira vez ao abrigo do protocolo de geminação. Elogiou “acima de tudo, a grande relação de amizade e afinidade que se vai criando”. Ficou agradado com a banda local, dizendo que é muito equilibrada e está bem organizada. O maestro assegura ainda que a população de Bondeville considera a geminação muito importante, “sobretudo as gerações mais novas”, estando disponível para todo o tipo de intercâmbios. A recepção da banda de Riachos na Normandia “era para ser já em Julho deste ano, mas por uma questão de logística, a viagem ficou para a Páscoa de 2012”, confirmou o maestro.
Jacques Calvet, vereador da cultura também veio a Riachos pela terceira vez. Diz que este intercâmbio é uma experiência enriquecedora: “É importante trazer os jovens para troca de experiencias, porque são eles que darão continuidade à cultura”. Reconhece que a geminação esteve “um pouco parada”, mas espera que, com este intercâmbio musical, passe a ser mais regular.
O vereador do desporto, Philippe Richier, que já cá esteve no 25.º aniversário da vila, em 2009, frisa que o mais importante desta troca de vivências é “os jovens perceberem como funciona outra cultura através de paixões comuns, seja na música ou no desporto”.
Um dos jovens que veio tocar flauta transversal com a banda de Riachos em dois concertos foi Clément Voiriot. Esteve em Portugal pela primeira vez e mostrou-se surpreso por toda a gente se conhecer em Riachos. Por outro lado, ficou admirado com o facto de os portugueses comerem muito peixe e sobremesas.
Este músico de 18 anos, que diz ter sido muito bem recebido em Riachos, gostou de conhecer Lisboa, “uma cidade com muitos espaços verdes” e destacou a beleza da Casa Relvas, na Golegã. Zoé Leborgne, de 12 anos, preferiu as paisagens da região e elogiou a simpatia das pessoas. Prometeu voltar quando for adulta para conhecer melhor o país.

“Com ou sem apoios iremos a Notre Dame de Bondeville”


Em jeito de balanço, o maestro da Filarmónica confirma que “a visita excedeu as expectativas. Foi o primeiro evento deste género que organizamos e decorreu tudo muito bem. O intercâmbio foi um êxito”. Para tal contribuíram a disponibilidade, a simpatia e o empenho das famílias de acolhimento, regozija Carlos Mendes. Chegou a ser ponderada a hipótese da comitiva francesa dormir na Escola Prática de Polícia, que foi posta de lado: “Não era a mesma coisa. Eles ficaram maravilhados com a forma como foram recebidos e querem receber-nos da mesma forma. Na despedida, quase todos choraram”.
A iniciativa contou com o apoio da Junta de Freguesia que assegurou as despesas com o jantar de recepção e jantar final. “De resto, não tivemos mais nenhum apoio financeiro”, confessa o também presidente da banda. Aliás, a visita da comitiva francesa foi uma organização exclusiva da banda. “Quando lá fomos em 2000, comprometi-me para que viessem cá em 2001. Só vieram agora porque entretanto ninguém quis assumir a responsabilidade. Entendo que a banda também deve estar ao serviço da cultura de Riachos”, salienta Carlos Mendes que está já a preparar a visita a França: “Com ou sem apoios iremos a Notre Dame de Bondeville. Os músicos e directores já estão a pagar 50 cêntimos por semana e vão ser feitas outras iniciativas para angariar fundos”, concluiu.

 Nuno Matos