o riachense

Sexta,
26 de Abril de 2024
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Os Camponeses, em Viagem, dão o corpo ao manifesto

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Eh lá, senhores, vão marcando nas vossas agendas o mês de Março do próximo ano (ainda não sei o dia, senão dizia-vos) para dar uma saltada a Guimarães. Não é para uma romaria às ossadas do sonhador e ambicioso Afonso Henriques, que, de resto, nunca lá estiveram, agora que o sonho dele parece estar a chegar ao fim; não é para ver o Benfica jogar com o Vitória, isso deve ser já em Fevereiro, cedo de mais para o que aqui nos interessa.

E isso é ver até onde nos leva a viagem iniciada no Virgínia no passado dia 22 de Outubro, integrada no Festival Materiais Diversos, que juntou o Rancho de Riachos à coreógrafa Filipa Francisco e aos bailarinos e músicos que com ela prepararam e apresentaram um magnífico bailado chamado, precisamente, A Viagem e que (pelo menos ficou no ar essa possibilidade, anunciada no final do espectáculo) poderá integrar o programa artístico do Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura.
Conjugando a música e as danças de raiz tradicional dos Camponeses com as linguagens e as técnicas da dança e da música contemporâneas, Filipa Francisco e o compositor António Pedro construíram um espectáculo desafiador para os intérpretes e o público, que terá avançado ainda mais nesta convergência de expressões artísticas em relação a anteriores colaborações do Rancho com criadores eruditos e habituados a outros palcos, como no extraordinário Raízes Rurais Paixões Urbanas, há já tantos anos, ou no mais recente Riachos Intemporal, também apresentado no Virgínia, em 2008, e onde a dança contemporânea já tinha levado o grupo de Riachos para caminhos de beleza e de expressividade que talvez nem os próprios suspeitassem poder trilhar.
Nesta viagem, que Filipa Francisco confessou ser também dela própria à descoberta das tradições musicais portuguesas de que sempre tinha estado alheada, a autonomia que as duas linguagens artísticas mantiveram ajudou a criar as tensões e as narrativas que se viram em palco, pois esses contrastes – técnicos, de trabalho dos corpos, de atitudes – contribuíram de forma muito positiva para o enriquecimento mútuo dos momentos em que, à vez, o palco foi mais habitado pelos bailadores do Rancho, completados pelos seus trajes folclóricos, como compreendeu e exigiu Joaquim Santana, ou pelos bailarinos contemporâneos (Antonia Buresi, de grande expressividade e com uma elasticidade quase circense, e David Marques, jovem torrejano tão à vontade numa espécie de tango solitário e bêbado, a que se juntaria Bruno Bicho com grande elegância, como no fandango vindo do fundo da terra ribatejana), ou quando todos eles se misturaram, em fotografias animadas ou em cornucópias de vertigem.
Nessa Capital da Cultura que se anunciou para daqui a uns meses, talvez a coreografia esteja ainda mais refinada, talvez menos presa às pistas indicadas pela grande Pina Bausch (que, de qualquer modo, também já tinha vindo aqui buscar para a sua Masurca Fogo aquele arrastar do tempo, suspenso nas ancas, do Fado da Charneca ou da Moda a Quatro Passos), talvez esteja melhor resolvida a primeira parte do espectáculo, agora um pouco estática e arrastada em demasia, e aquele público irá certamente maravilhar-se com os movimentos de todos os dançarinos, com a voz da Teresa Tapadas (que raio de país este, que desperdiça uma voz assim!), com as raparigas de Riachos.
Mas eles em Guimarães, coitados, sabem lá quem é o Leonel Pegacho ou o Martinho Gineto, ou quem são aqueles acordeonistas “vestidos à rancho”, para poderem juntar o espanto à maravilha, como aconteceu ao público que encheu o Virgínia ao ver e ouvir ali à nossa frente, para o convencimento ser maior, aqueles músicos já velhos, habituados a tocar de cor, a seguirem as indicações do maestro António Pedro e a assumirem as variações e improvisos da música contemporânea, com um rigor, uma inventiva e um domínio instrumental que se julgaria, não impossível, mas improvável e que se tornou no assunto de todas as conversas à saída e pela noite dentro?
Boa viagem, boas viagens estas em que embarcamos no fim-de-semana em que o Outono, finalmente, chegou à terra.

 

Carlos Simões Nuno

 
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