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Sexta,
26 de Abril de 2024
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Poluição apoquenta habitantes do Nicho

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Revolta silenciosa perante a inépcia das autoridades  

Além do trânsito infernal (que piorará com as portagens na A23), da falta de segurança na ponte do ribeiro da Boa Água, existe um problema mais grave que afecta a população do bairro do Nicho: a poluição. Os moradores mostram descontentamento e revolta, sobretudo devido à aparente incapacidade das autoridades para resolver o problema. O assunto não é novo, já foi abordado diversas vezes em reuniões e assembleias municipais e de freguesia, já ocupou páginas de jornais, mas uma coisa é certa: o problema persiste, para desespero dos moradores. Um deles, admite mesmo colocar a câmara de Torres Novas e o ministério do Ambiente em tribunal.


Nuno Matos

Manuel Ferreira Bento, residente no Nicho há 20 anos, mostra-se indignado, não temendo apontar os culpados. Sente-se afectado pelos maus cheiros do ribeiro há cerca de 10 anos e nos últimos tempos, queixa-se também dos odores, supostamente provenientes da compostagem da Sapeira, que chegam igualmente a Riachos, Meia Via e Torres Novas. “Todos sabem quem polui. A câmara sabe, a GNR sabe e os serviços do ministério do Ambiente também sabem, mas ninguém aplica coimas, ou se aplicam, então o crime compensa. Ninguém faz nada. Se vivêssemos num país civilizado já tinham sido todos presos. Se fosse necessário até arranjava, aqui no Bairro, um abaixo-assinado com mil assinaturas, mas para quê? Não vale a pena, porque todos os autarcas de Torres Novas sabem o que se passa e nenhum faz nada”, atira, continuando visivelmente irritado com a situação: “Sou obrigado a dormir de janelas fechadas por causa do ribeiro que é um esgoto a céu aberto. Há 15 anos pescava-se aqui...”.
Muito revoltado, confessa que até “oferecia cinco mil euros para ajudar a resolver o problema, apesar de pagar os meus impostos que deveriam servir para despoluir o ribeiro” diz, enquanto levanta o nariz e aponta para a piscina onde costuma confraternizar com familiares e amigos: “Acha que alguém gosta deste cheiro? Até ficam mal dispostos. Isto é um caso de saúde pública”. Manuel Ferreira Bento até admite mover um processo judicial contra a câmara municipal e o ministério do Ambiente, caso o problema não seja resolvido. “As pessoas deste bairro são muito pacatas, porque se fosse noutro lado, já tinham cortado a A23”, conclui este morador, cuja habitação confina com o ribeiro.    

“Vivemos no meio do lixo”

Duas senhoras conversavam numa das ruas do bairro do Nicho. Perguntámos se se sentiam incomodadas com os cheiros: “Oh! Não se pode viver aqui, sempre cheirou mal, mas piorou nos últimos meses”, atirou Zulmira Santos, ali habitante há 40 anos, para continuar: “Não sei se é do ribeiro, da zona industrial de Torres Novas ou da compostagem na Meia Via. Aqui apanhamos com tudo”. Diz que a poluição do curso de água, que desagua a poucos metros no rio Almonda, é o que a mais preocupa: “Cheira a podre e nem se pode abrir as janelas, já para não falar nas melgas. Vivemos no meio do lixo”, diz a senhora, cuja casa se situa paredes-meias com o contaminado curso de água. “À noite é pior porque devem fazer descargas lá para o Carreiro da Areia ou Meia Via. Esta situação até é uma vergonha para o shopping”, acrescenta a vizinha, Cristina Matias.
Apesar de incomodados, os moradores do Nicho nunca se manifestaram na Junta, na assembleia de freguesia de Riachos ou na Câmara. Nem planearam quaisquer acções de protesto: “Não vale a pena porque ninguém faz nada. Temos de gramar com os cheiros, sendo que o da Sapeira é o que mais incomoda… O que havemos de fazer?”, questiona, algo resignada, Zulmira Santos.
Mesmo afectadas com o problema, nenhuma das moradoras admite mudar de local de residência: “É um sítio pacato, com boa gente, não saio daqui”, confessa Zulmira Santos. “Também não trocava”, remata a vizinha.
Quem também lamenta a situação, é um empresário com negócio há 25 anos no Nicho. Recorda que os maus cheiros começaram há cerca de uma década, mas têm piorado nos últimos dois anos, sobretudo no Verão. “O ribeiro cheira mal e quando chove, é alvo de descargas que também poluem o rio Almonda. Por outro lado, por vezes somos invadidos por outros cheiros quando o vento sopra dos lados da Meia Via”, afirma, dizendo que os seus clientes até questionam como aguentamos estes cheiros, “mas já estamos habituados e só notamos mais quando chegamos de manhã ou depois do almoço”. Este empresário também se queixa da ineficácia das entidades políticas, fiscalizadoras e governamentais: “Todos sabem quem polui, mas ninguém faz nada”. “É um bafo insuportável, mas actualmente respira-se, come-se e bebe-se tudo de mau”, acrescenta um dos clientes.

Componatura a caminho do Eco-parque do Relvão
Alguns dos cheiros a que se referem os habitantes do Nicho são originários da actividade da Componatura, na Sapeira, que procede à gestão de resíduos biodegradáveis, valorizando-os pelo processo de compostagem de forma a obter um composto orgânico natural utilizável nos solos.
A empresa tem como política o cumprimento da legislação actualmente em vigor, nomeadamente no que respeita o licenciamento de unidades gestoras de resíduos. Foi obtida a autorização de gestão de resíduos, conforme referido no decreto-lei n.º 239/97, com o número GR/37/2004 emitida pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento de Lisboa e Vale do Tejo para a operação de valorização de resíduos biodegradáveis.
“Temos neste momento todo o processo de licenciamento na normalidade como sempre tivemos e informamos que somos inspeccionados frequentemente”, esclareceu a empresa.
Por outro lado, a Componatura, consciente dos efeitos da sua actividade, está a desenvolver um processo de transferência da unidade de tratamento de resíduos para o Eco-parque do Relvão, na Carregueira, Chamusca, num projecto financiado pelo QREN, estando prevista a sua conclusão para breve. “Assim, no que diz respeito aos maus cheiros estes serão tratados de outra forma de maneira a não incomodar ninguém”, explica a Componatura, referindo ainda que este tipo de processo de tratamento de resíduos é “complicado, complexo e moroso, mas estamos a fazer todos os esforços que estão ao nosso alcance para o concluir tão rapidamente quanto possível, e como toda a tecnologia é estrangeira, não é fácil, porque estamos dependentes das várias empresas (inglesas e dinamarquesas), tendo de conciliar as obras em função de todos”.

Fabrioleo refuta acusações

A Fabrioleo - Fábrica de Óleos Vegetais, instalada no Carreiro da Areia, é apontada pela população como uma das responsáveis pelas descargas poluentes no ribeiro da Boa Água. Contactada por o riachense, a administração da empresa declina qualquer responsabilidade, disponibilizando-se para nos mostrar todo o processo de laboração da fábrica, ficando agendada uma reportagem para a próxima edição: “Não temos nada a esconder e a empresa está certificada ambientalmente. Ainda a semana passada fomos auditados pelo ministério do Ambiente, pelo qual somos controlados on-line, 24 horas por dia. Não faz sentido sermos o bode expiatório. Existem outros culpados e nós sabemos quem são”, esclareceu a empresa.

 

Ministério e Agência do Ambiente não respondem
Face a todos estes lamentos e suspeitas, contactamos o ministério do Ambiente e Agência Portuguesa do Ambiente para apurar se têm conhecimento do estado de poluição em que vivem as pessoas do Nicho, se já receberam algum tipo de queixa ou se têm sido efectuadas fiscalizações nas empresas da zona, mas até ao fecho de edição não recebemos qualquer resposta.

 


actualização

Inspecções não competem à APA
o riachense efectuou um pedido de informação à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), no passado dia 18 de Agosto, relativo ao cheiro incomodativo com eventual origem na Componatura e ao ribeiro da Boa Água, afluente do rio Almonda, com eventuais descargas poluentes.

Não tendo sido dada resposta por parte da APA dentro do prazo indicado, de fecho da edição, a mesma solicitou o esclarecimento seguinte: “não está dentro das competências deste organismo as matérias de fiscalização referidas, como é aliás claro na informação disponível no nosso portal externo”

o riachense esclarece que a referência à APA nesta reportagem sobre o ambiente, na edição 681, não estava devidamente contextualizada, de acordo com o que são as suas competências, determinadas na sua Lei Orgânica e que, por isso, não deveria ter dado destaque à ausência de esclarecimento atempado por parte daquela instituição pública.

Actualizado em ( Sexta, 16 Setembro 2011 14:46 )  
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