o riachense

Sexta,
29 de Maro de 2024
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A grande feira de todas as contradições

Por motivos vários, caminho com muita frequência para a Golegã. Já este fim-de-semana por lá andei e não pude deixar de notar como a terra é diferente durante a feira de São Martinho e, depois, na sua normal pacatez. Onde bebemos uns copos são agora espaços vazios de tudo. Restam uns lixos por aqui e acolá, ainda algumas barracas por desmontar. De resto, o silêncio, muita casa fechada, muitas placas com a inscrição: vende-se.

Quando escrevi nestas páginas, após as festas da Bênção do Gado o título de um artigo: “Riachos em ponto morto”, lembrei-me que a Golegã também tem o seu ponto morto. Se calhar, é a vida das pequenas localidades que é mesmo assim e as festas não passam de mera ilusão. Mas não é sobre a Vila da Golegã que me apetece tecer uns comentários. É sobre a feira de São Martinho e a Feira Nacional do Cavalo.

Porque raio de carga de água é que continuo a tirar uns dias de férias para poder gozar a feira as horas e os dias que me apetecer? Lá encontro muitos amigos. Mas não encontro outros amigos, e dos bons, porque não põem lá os pés. Exercem até uma certa objecção de consciência. E isto porquê? Talvez porque a feira seja uma convulsão de interesses e palco para todas as contradições.

É o negócio da feira de província. É o povo que chega em excursão e anima as ruas com as suas concertinas, a sua boa disposição e as cantorias das gargantas afinadas pela água-pé que ainda mal teve tempo de assentar.

Do outro lado, é aquele povo que diz que não pertence ao povo. Veste à inglesa mas também apanha com grandes carraspanas, embora possa não ser de água-pé. E no meio desta embrulhada, por lá andam muitos cavalos. Uns coxos, outros pencos, uns quantos bons e alguns muito bons. E é assim que se faz a feira nacional do cavalo.

A feira das tascas tem o outro lado da feira das tertúlias, da entrada por convite, das noites de “glamour”. Não sei se tinha a vista turva pelo fumo dos assadores de castanhas ou se a goela desentaramelada por meia cana de água-pé. Mas, perante um convite que me fizeram para uma dessas festas “do lado de lá do povo”, recusei com o argumento mais ou menos assim: eh pá, não vou. Porque eu venho à Golegã é pelos cavalos! Esse pessoal que vem aí só para se promover, que só distingue um cavalo de uma vaca porque normalmente vê as pessoas em cima dos cavalos e não é hábito vê-las em cima das vacas, isso é ambiente que não me interessa. (Depois desta conversa, fiquei com remorsos de ter sido ríspido com a pessoa. Da próxima vez que estivermos juntos, peço-lhe desculpa).

Mas a feira é também esta ilusão da estratificação social. A feira da ostentação, dos grandes negócios. A feira de vaidades, como muita gente a apelida. Mas é igualmente a feira dos que não têm onde cair mortos. A feira que é transversal dos ciganos até aos crentes na corrente do sangue azul. Será por isto que não se é indiferente à feira da Golegã neste ambiente inigualável onde se conjugam os polos de atracção e repulsão? Esta feira de todas as contradições como agora lhe chamo, é também a feira de todos os imprevistos. Numa das minhas deslocações à feira, num dia que deu direito a romaria, discurso de ministro e bênção, acabei por dar boleia no meu carro de cavalos a um Padre que não conhecia, mas que, também ele, precisava de ir para o Arneiro, local de todos os encontros. Na conversa que tivemos, logo se abordou este ambiente muito próprio das gentes viverem a feira do cavalo e de como é preciso compreender estes modos diferentes de a viver e de como os dias de hoje são tão diferentes de ontem e as noites de São Martinho… impróprias para padres. 

Passei mais uma feira do cavalo com muitas horas gastas quer a dar o melhor que posso e sei nas minhas participações no desporto equestre, muitas conversas, uns petiscos e uns copos quanto baste.  No final, o que ficou? Apesar de todas estas interrogações, ficou, naturalmente, a vontade de continuar a rumar à Capital do Cavalo. Porquê? Porque se apreciam excelentes exibições equestres, quer na vertente desportiva, na equitação clássica ou no espectáculo equestre. É ali, num palmo de terra, que vemos evoluir a raça do nosso cavalo lusitano, um orgulho nacional reconhecido internacionalmente. Enfim, é o cavalo que interessa (para quem gosta, é claro). O resto é acessório.

Actualizado em ( Quinta, 24 Novembro 2016 12:37 )  
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