o riachense

Terça,
10 de Dezembro de 2024
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António Mário Lopes dos Santos

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As imagens que nos chegam

As imagens que me chegam dos refugiados junto à fronteira da Macedónia. As imagens que me chegam dos bombardeamentos aéreos na Síria. As imagens que me chegam da vitória dos moderados nas eleições do Afeganistão. As imagens que me chegam de Cavaco Silva no Facebook. As imagens que me chegam da impotência socialista espanhola de constituir com a esquerda um governo progressista. As imagens que me chegam carregadas de excomunhão contra um cartaz profundamente estúpido do Bloco de Esquerda. As imagens que me chegam do papa Francisco, no México, a falar de corrupção aos corruptos. As imagens que me chegam da emigração portuguesa em Angola uma vez mais a bater em retirada, com uma filha do presidente daquele país a colonizar Portugal com o dinheiro dos negócios petrolíferos. As imagens dos ingleses da terceira idade a comprar moradias no Algarve, porque a vida cá é mais barata e além disso os portugueses são muito simpáticos, isto tudo no inglês de Kipling e de Sua Majestade a Rainha. As imagens que me chegam da recondução de Santana Lopes como Provedor da Santa Casa da Misericórdia, e ainda dizem que o Euro milhões sai ao acaso. As imagens que me chegam sobre o Universo BES do Espírito Santo, e tanto político na Assembleia da República a assobiar para o lado. As imagens que me chegam dos debates em Bruxelas sobre como se fazem leis para que os ricos não paguem impostos. As imagens que me chegam dos diálogos republicanos eleitorais de Donald Trump, que me permitem compreender como a venda de armas nos EUA é mais fácil que adquirir certos medicamentos nas farmácias portuguesas. As imagens que me chegam dos grandes mestres da gastronomia nacional e das suas obras de arte que só podem degustar os que usam cartões de crédito e fazem parte dos 1% dos ricos que vivem do trabalho alheio e se chamam empreendedores. As imagens que me chegam dum Brasil em que a esquerda começa a sentir-se traída pelos que elegeu. As imagens que me chegam dum médio oriente a destruir o património mundial em nome da fé. As imagens que me chegam da escalada de terror em Moçambique. As imagens que me chegam da queda das bolsas nos mercados planetários. As imagens que me chegam da corrupção dos comités olímpicos para que aqueles se fizessem no Brasil. As imagens que me chegam, de todos os lados do planeta, da destruição, miséria, da violência e do esbulho. 

Parece que me chega, por escrito ou por imagem, a situação do mundo.

Parece que estou bem informado, excessivamente mesmo. 

Mas os problemas surgem quando começam os porquês. 

Porque o ser humano, na sua maioria, com todas condições tecnológicas, não consegue ter uma vida minimamente decente? 

Porque, conhecendo-se quem e como se corrompe, nunca se prende o corruptor e pune-se o que denuncia os meandros dos negócios ilícitos?

Porque, sabendo-se que o factor climático pode levar em poucas gerações à destruição da vida no planeta, os países mais ricos e industrializados continuam impunemente a apoiar a poluição?

Porque se transformou o terceiro mundo num inferno onde sobreviver é um acaso puro, quando se esgotam em nome do progresso tecnológico e do comércio mundial as matérias-primas desses países?

Porque vive tanto burocrata e político dos impostos que pago, e não tenho os direitos mais elementares que ele usufrui?

Como pode Bruxelas exigir austeridade e privação aos países da comunidade europeia, se os seus funcionários e burocratas são o exemplo oposto dessa austeridade exigida aos povos que (des)governam?

Porque neste país, desde o século XVI, Lisboa parasita Portugal, o litoral o interior, pagando este o saque e a rapina para o europeísmo daquela?

Muitas questões se poderiam pôr. Mas o cerne está no que se desconhece. Já Eça denunciava: sob o manto diáfano da fantasia a nudez forte da verdade.

Somos uma espécie muito prática a vassourar os nossos lixos para debaixo dos tapetes. Em nome da aparência, do reconhecimento social, passámos de macacos a espantalhos, sem perceber como a humanidade, nestes milénios, se escoava entre os dedos, passando à margem das nossas acções, sempre sublinhadas pela arrogância do poder e a fuga às responsabilidades pela resolução dos problemas do mundo.

Hoje, no meio do impasse em que a ameaça duma nova guerra mundial se coloca na balança da hipocrisia dos poderes, reais e fictícios, do que era certo ontem desmorona-se como o castelo dum baralho de cartas: ideologias, valores, regras, filosofias. 

Os deuses contemporâneos reúnem-se periodicamente na Suíça para recomeçar a partilha dos despojos.

Homero prepara-se para contar aos vindouros a nova Guerra de Tróia.

3 de Março de 2016
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António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt

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Actualizado em ( Sábado, 05 Março 2016 16:33 )  
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