o riachense

Segunda,
09 de Dezembro de 2024
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João Moreira

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E agora?

De médico e de louco

O País foi às urnas e escolheu o seu novo Parlamento liderado pela mesma força política. Não vou comentar se se trata de uma boa ou má opção, este não é o “local” para isso. Posso no entanto fazer um outro exercício: que consequências terá esta eleição na Saúde portuguesa?

Em 2011 foi nomeado para o cargo de o Ministro da Saúde - sucedendo à médica pediatra Ana Jorge - um gestor de empresas e ex-Director Geral de Impostos sem qualquer experiência prévia de trabalho no SNS. Isto preocupou muita gente e com razão. O natural seria ter alguém da Saúde bem assessorado por gestores mas optou-se por um gestor assessorado por gente da Saúde. Provavelmente tratou-se de um alerta às tropas para o que se iria passar a seguir.

Paulo Macedo cortou. Cortou urgências e serviços, cortou recursos humanos, cortou orçamentos. Cortou gorduras e ainda bem, depois cortou músculo e ainda mal, por fim até o osso tentou cortar. Vulgarizou-se a figura do “médico a recibo verde” ao obrigar à contratação de muitos serviços através de empresas, num regime quase mafioso em que estas cobram uma parte significativa dos honorários a troco de absolutamente nada. Exigiu que os médicos de família admitissem muitos mais utentes, exigiu mais consultas, mais resultados e menos dinheiro gasto em exames complementares e medicamentos. É o milagre da multiplicação dos pães sob a forma de decreto ministrial.

Os médicos sentiram-se atacados por toda uma série de indignidades extensas demais para discutir aqui. Não eram os únicos: alguns dos novos enfermeiros que conseguiram trabalhar em serviços públicos fizeram-no a recibos verdes através de empresas e a ganhar pouco mais do que o ordenado mínimo e os restantes técnicos como fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas ou terapeutas da fala deixaram pura e simplesmente de ser contratados.

Os médicos portugueses avançaram para uma greve, coisa inédita ou lá perto. Sobre isto a única coisa que o Governo teve a dizer, através do Secretário de Estado Adjunto da Saúde, Leal da Costa, foi que era uma pena que uma classe com tanto trabalho para fazer não quisesse trabalhar. Quase me esquecia, este senhor é médico. Podia não se ter dito mais nada durante toda a legislatura que a malta já tinha percebido o que podia esperar.

Durante 4 anos viveu-se e trabalhou-se em sobressalto. Novas regras em tom ameaçador foram uma constante. Nunca percebi como se pode levar uma empresa ao sucesso (seja o SNS ou qualquer outra) enquanto se declara abertamente guerra a quem aí trabalha todos os dias. Sempre que houve um sinalzinho de descontentamento por parte dos profissionais a imprensa foi inundada com notícias sobre casos de médicos corruptos, negligências médicas e, já agora, sobre como o SNS estava cada vez melhor.

Não pensem que o que escrevo está associado a preferências partidárias. A alternativa parece não ser melhor. Diz a imprensa que aquele que seria muito provavelmente o próximo ministro da Saúde de um governo PS, Álvaro Beleza, médico imunohematologista no Hospital de Santa Maria, ganha perto de vinte mil euros por mês por se escalar a si próprio como médico de prevenção quase todos os dias. Aparentemente não é ilegal, apesar ser pouco moral… Tudo isto enquanto defende publicamente que um médico do SNS deveria ser proibido de trabalhar em medicina privada. Talvez o colega Álvaro Beleza pense que ganhamos todos o mesmo que ele.

O futuro assusta-me. O SNS não resiste a outra legislatura como esta. Mais tarde ou mais cedo vamos ter que contratar pessoas, comprar máquinas e material. Vamos ter a Saúde que pagarmos. Ou reinvestimos no SNS ou vamos criar uma Saúde a dois tempos, de qualidade para quem a possa pagar e outra, de terceiro mundo, para quem não possa. Já agora poderíamos tentar criar um ambiente de trabalho saudável e com condições que permita que médicos e enfermeiros parem de emigrar aos milhares. 

Pois, eu sei . Parvoíces, não é?

Actualizado em ( Quarta, 21 Outubro 2015 16:14 )  
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