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António Mário Lopes dos Santos

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Daqui a uns meses falamos

Na última semana, quem leu o meu artigo, deve tê-lo achado, além de extenso, pouco agradável para os partidos. A abstenção, ainda que se diga que os cadernos eleitorais não estão actualizados, é de tal forma alta, que coloca em cima de todas as mesas um aviso solene: não coma, sem conhecer os ingredientes. 

Basta o exemplo da votação eleitoral da Europa e fora da Europa. Quatro deputados, 3 do PSD, um do PS, mais de 88% de abstenção. Estes quatro marmanjos representam na futura Assembleia da República, quem? Mas 88% e tal de abstenção, porquê? Que fazem os consulados em relação aos emigrantes, se os deputados o não fazem em relação aos eleitores? 

Faça-se uma sondagem a estes últimos sobre quem são os deputados eleitos que vão para a Assembleia da República, e não só na Europa e fora dela. Comece-se por Portugal. Suponho que é mais fácil uma resposta sobre as quatro botas de ouro de Ronaldo, o escândalo das ofertas do Benfica aos árbitros. Mas, breve sentar-se-ão na devida Assembleia, formando grupos partidários, aprovando ou recusando leis. 

Na actual situação a direita vencedora, que devia assumir-se com tal, formaria governo, levaria o seu programa a discussão e aprovação. É essa a regra do jogo democrático. Ao contrário do que pensa a coligação PSD/CDS, do que pensa o actual Presidente da República. 

Sabem ambos que PCP e BE já informaram publicamente que, na primeira sessão, irão apresentar uma moção de rejeição do programa do governo. Todos sabemos que o PS, porque não soube ganhar as eleições, tem a tina do banho com o menino nas suas mãos. Penso que quem vai sofrer é o menino, que é, na vida, os explorados do costume. Basta ler e ouvir os comentadores e certos escribas socialistas que, congeminando que o PS deve ficar na oposição, consideram que, tudo o que fique à esquerda do coração liberal-social-democrata, PC, BE, outros, são considerados por esse tipo de esquerda engravatada uma espécie de leprosos, que convém meter em gafarias, não venham a criar uma epidemia, com consequências imprevisíveis para a sua salubridade. Um governo de esquerda, que heresia! As bruxas queimavam-se por perseguição religiosa. No mundo contemporâneo criou-se uma falha geométrica chamada arco governação, onde a esquerda é algo de bruxaria satânica.

 Nestes quarenta anos de democracia hierarquizada, a quem se deve o incremento da pobreza, da emigração, do endividamento, da desigualdade social? Esses grandes pensadores e escribas teóricos que endeusaram Blair e ignoraram Keynes, beberam o chá de Bush, da Barroso,de Sócrates, chegaram à Assembleia -como todos os outros, seja-se coerente - pelos méritos próprios ou por estarem em zonas elegíveis de listas que os votantes, diga-se a verdade, desconheciam? 

O PS está (sempre esteve) dividido. Considera-se um partido charneira, mas os seus exemplos, nacionais e europeus, mostram que mandaram todos os seus princípios sociais-democratas às urtigas e se transformaram em óptimos gestores da economia privada e amigalhaços dos grandes milionários nacionais. O que pode vir a acontecer na Assembleia é parte dos deputados socialistas votar as moções apresentadas, outra parte abster-se, porque há uma esquerda cuja democracia está debaixo do travesseiro duma vida política como emprego, e ante a carteira e o respeito partidário, não tenho a menor dúvida qual a opção. 

Que a direita o faça, percebe-se. Está no seu papel empreendedor meter a mão no bolso alheio, Mas muitos gestores do PS, que estão a cargo com a justiça - apenas alguns e muito menos do que os que a justiça conhece, mas não acusa - são um péssimo exemplo da defesa do estado social, que lhes tem sido uma lauta bandeja em vez duma bandeira. 

As televisões, por sua vez, todas ao serviço da capital, anónimo, limitada, ainda não foram capazes de dizer que é constitucional qualquer partido político que tenha assento na Assembleia da República poder formar governo. 

Quem ganha merece ser governo, sem dúvida, mas se não consegue essa maioria relativa passar o seu programa, governa quem? Quem consegue, penso, um programa que aglutine uma maioria. 

Voltemos ao início. A maioria absoluta não é a abstenção? Quem pode, ante essa realidade, garantir a sua legitimidade como ganhador? 

A actual legislação eleitoral permite-lhes governar e nunca mudar a lei, para que não surjam outras soluções. 

A partidocracia é a culpada da crise. Se se não enfrentar de vez este atropelo eleitoral, as crises transformarão o sistema democrático numa elitocracia burocrática. É por se mandar a discrepância para debaixo do tapete, que esta crise partidária se vai transformando em doença virai, que transforma o cidadão num candidato a resignado crónico. 

Uma possível e viável solução surgirá, depois das presidenciais, tudo apontando para novas eleições. Mas, nessa altura, o PS já se terá transformado em vários grupos de bons rapazes a desejar a vinda dum D. Sebastião, que os retire do nevoeiro mental onde se enfiaram, desde o ingresso no aristocrático Clube dos Burocratas bem pagos de Bruxelas.

16 de Outubro de 2015
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António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt

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Actualizado em ( Quinta, 29 Outubro 2015 12:03 )  
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