1
Saltam à vista sinais preocupantes para a vida cultural de Torres Novas, conhecida desde há poucos anos como a principal referência no distrito, um pilar, uma pedrada no charco regional da diversidade e acesso a espectáculos de qualidade. Para simplificar designa-se as actividades artÃsticas e de entretenimento pelo termo ‘cultura’.
Â
Parece que os problemas surgiram todos ao mesmo tempo: a notÃcia da provável extinção da Turrisespaços, a chamada de atenção dos funcionários da empresa para a pouca produtividade dos serviços públicos análogos (um lugar-comum que não pára de se reproduzir), a resposta à altura dos funcionários da Câmara, o cancelamento das festas da cidade porque se esgotou o dinheiro na Feira Medieval e, por fim, desemboca-se na saÃda do director artÃstico do VirgÃnia para voos mais altos.
Â
Vem aà agora o grande teste à perenidade da ambiciosa polÃtica cultural da Câmara, iniciada há oito anos. Começa a surgir a estranha, mas demasiadas vezes comum, sensação de que se queimaram os foguetes todos depressa demais.
Â
Lembramo-nos tão bem das agendas culturais (cuja intensidade tem ultimamente chegado à s actividades desportivas) de encher o olho, colmatadas com umas ecléticas Festas do Almonda, como uma espécie de agenda do VÃrgina duplicada e condensada numa semana de grande riqueza programática celebrando a aposta nos espectáculos (e agora no desporto) como elemento decisivo de atracção de visitantes e potenciador da qualidade de vida dos habitantes.
Â
Devemos então habituarmo-nos à redução drástica da oferta cultural e desportiva na nossa terra? O verão poderá ser quente no tratamento deste problema.
Â
As preocupações dos trabalhadores da Turrisespaços, expostas na Assembleia Municipal, são bem justificadas ao verificarmos as implicações decorrentes da necessária abertura de concursos públicos para a admissão de funcionários e as complicações bem conhecidas pelas Câmara, hoje em dia, para abrir lugares no quadro, em especial se forem 30 de uma vez.
Â
E a preocupação estende-se às orgânicas que gerem os equipamentos desportivos, cujo livre acesso em boas condições de funcionamento, em tempos democráticos, sempre fez parte do direito das populações.
Â
Se não existissem os limites legais para a Câmara financiar a receita da empresa através da contratação de serviços podÃamos dizer mais uma vez: a ideia é boa, mas a Câmara não tem dinheiro para ela.
2
Inauguramos nesta edição a rubrica Café Central. Nele, Carlos Tomé regressa ao estilo de escrita em que recupera pequenas memórias de gente de Riachos, neste caso de gente castiça que frequentou o Café Central no final da década de 1960 e em toda a década de 70. Com base em pequenos acontecimentos, expressões ou caracterÃsticas dos personagens, conhecidos de todos, nem que seja pelo nome, vai ligando a narrativa a outras memórias de Riachos dessa época, numa mistura suculenta entre realidade e ficção. São histórias que resultam de uma visão pessoal, mas baseadas em factos. Esperemos que desfrute tanto delas quanto nós.