Não há nada como uma farda para se pedir respeitinho
Não sei se os possíveis leitores, entre a mistificação da feira medieval de Torres Novas (será que o executivo ignora que Torres Novas se continuou pela Idade Moderna, passou por África, Índia e Brasil, só teve vereadores representantes do 3º Estado a partir de D. João IV, sofreu as agruras da Inquisição, que lhe destruiu, no Antigo Regime, até ao Marquês de Pombal, as estruturas comerciais, e na idade contemporânea, sofreu as Invasões francesas, optou pelo liberalismo, a regeneração, o fim da monarquia, a implantação da república, a 1ª Guerra Mundial, o 28 de Maio, a República Corporativa de Salazar, a 2ª Guerra Mundial, o MUD Juvenil, os presos políticos, a geração de 60, o 25 de Abril, o 11 de Março, o 25 de Novembro, a adesão à Comunidade Europeia?) e o Mundial de Futebol no Brasil, se aperceberam de que:
- O BES de Angola perdeu o rasto de 5, 7 milhões, mas que 745 milhões foram parar às contas dum dos dos administradores, que segundo o Expresso, serviu para negócios de família. E os outros? Para as contas de quem? E ninguém é preso?
- A nível do ensino batemo-nos furiosamente com a Turquia, para defesa do último lugar da OCDE do país com a menor população com o 12º ano: Portugal - 18%, OCDE - 44%; EU - 48%. O arco da governação procura transformar o ensino, com a ajuda dos media dominados pelos seus representantes, numa menoridade mental, para o apoio das elites, do ensino privado. Duvida-se que os professores reclamem? 40 mil candidatos ao lugar de professor - contratados com 365 dias de serviço nos três últimos anos lectivos, para 1954 vagas no quadro, não têm direito a protesto?
- A nível da prevenção de VIH, Portugal é dos países europeus com a maior percentagem de diagnósticos tardios da infecção, perto de 60%.
- Médicos só declaram oito dos vinte e oito milhões doados por laboratórios. Mas a cirurgia é um acto sagrado, definiu-a o Dr. João Lobo Antunes, na sua última aula, antes da jubilação. Ou deveria ser? E não deixo de perguntar - e o que os políticos, banqueiros, advogados, administradores, empresários, etc., não declaram?
- O PSD diz que os juízes do Tribunal Constitucional não têm categoria para ser juízes do mesmo. Esqueceu-se de quem os lá meteu. Ao primeiro sinal de independência, os ratos procuram fugir do naufrágio.
- Marisa foi pugnar contra a violência das cheias que transformaram as martirizadas Bósnia, Sérvia num pesadelo de fome, miséria, escassa sobrevivência. As inundações não só destruíram o que é essencial: casas, alimentação, água potável, uma profilaxia higiénica contra epidemias. Ainda para agravar o pesadelo: as minas da guerra desertaram com as chuvas e prometem novas infelizes vítimas. Marisa, só, um abraço solidário.
- Obama critica o Congresso de impedir a aprovação duma lei que impeça a imagem diária dos EUA, com a bênção dos conservadores, dos neo-racistas do Tea Party, que são os resíduos do Oeste da lei da bala. Mas era preciso que Obama pudesse ou quisesse, ou o deixassem ir mais fundo. Quem é quem no Congresso, no Senado, no Pentágono, nos Partidos Republicano e Democrata, no negócio de armas. Talvez se explicasse o Viename, o Afeganistão, o Iraque, a guerra dos Balcãs, o bloqueio de Cuba, o assassinato dos Kennedy, a unificação serventuária da Alemanha, o neo-liberalismo conservador e autoritário da senhora Merkel, a indústria química e farmacêutica, o monopolismo especulativo financeiro, o fascismo capitalista bancário, Bidelbergo tráfico de droga, armas, humanos?
- A monarquia continua em Espanha, com o apoio mesureiro do partido socialista espanhol. Franco vira-se de gozo no túmulo, por ter conseguido que a parasitologia se transforme em algo mais importante que as touradas e o flamenco. O meu republicanismo plebeu mantém-se de acordo com uma Ibéria onde Saramago, Torga, Unamuno, se revêem, não num socialismo do burlesco.
- O dinheiro que corre, ai o dinheiro que corre para o bolso de advogados. Proença de Carvalho, homem, não de mil ofícios, mas de dezenas de conselhos de administração, defende na Controliveste o despedimento de dezenas de funcionários para que diminua o que nunca pode diminuir, porque ele foi um dos seus defensores - elites que vivem à custa do sofrimento alheio, mantendo a ignorância como regra de exploração social. Mas a isto não se refere Cavaco Silva no seu discurso, nem o chefe do Estado Maior das Forças Armadas quando pede respeito para algo que o perdeu durante mais de quatro dezenas de anos e só a reganhou com o 25 de Abril. Mas, estarão as Forças Armadas de hoje ao serviço do povo, como as que fizeram a revolução? O respeito duma instituição começa pela sua dignificação, não pelas ameaças contra um povo que protesta. Incomoda-se o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas? Porque o povo, espoliado, explorado, ofendido, ignorado, gozado, vilipendiado, protesta? Quantas condecorações do 10 de Junho assentam sobre a exploração dos que protestam? Será que um trabalhador duma fábrica, um rural, um empregado do sector terciário, não merece a condecoração garantida aos administradores que os exploram e destroem? O dez de Junho representa que forças armadas? As de Marcelo Caetano? A Brigada do Reumático? O Américo Tomás? O Tenreiro? O Kaulza de Arriaga? O general Spínola da contra-revolução? Ou o general Humberto Delgado? Os capitães de Abril? Salgueiro Maia, esquecido? Melo Antunes? Vasco Gonçalves? O general Costa Gomes? Mesmo, com todos os efes e erres, Eanes?
Os meus 72 anos permitem-me a pergunta. Quer Sua Exª responder?
- Cavaco, após o desmaio, repetiu o discurso do costume. Nem o desmaio nos salva da Europa Cavaquista? Um desmaio destes, em qualquer país democrático, obrigava a um boletim clínico sobre a saúde de quem nos representa. Em Portugal tudo é silêncio, desinformação, desrespeito constitucional. Será que este arco da governação, com Cavaco como progenitor, não cabe inteiro, no Ensaio sobre a Cegueira de Saramago? Será que nem reparam que a própria Europa, após eleições, já começou a fazer actos de contrição aos planos de austeridade?
Só fecham jornais? Não lêem jornais?
- Regresso ao início. É por estas ambiguidades que a Câmara Socialista da minha cidade se mantém inalterável em festejos da Idade Média?
12 de Junho de 2014
António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt