Comemorações do 30º aniversário da elevação de Riachos a vila.
O trigésimo aniversário da elevação de Riachos a vila foi comemorado numa cerimónia solene na Casa do Povo, no dia 16 de Maio, que teve dois momentos significativos: o discurso de Alexandre Simas e o lançamento do novo livro de Manuel Carvalho Simões.
No primeiro momento, o presidente da Junta, no espírito das comemorações do 16 de Maio, convencionado ao longo das últimas três décadas como o dia de Riachos, recordou o acto administrativo da passagem a vila, fez uma breve súmula do que existia antes e do que por cá se criou depois de 1984 e valorizou a “antiguidade e o percurso histórico [de Riachos] que se materializou numa identidade colectiva peculiar, partilhada pelas gentes desta freguesia”.
Verificando que a maior das razões justificativas que levaram à elevação a vila já não se verifica hoje em dia, disse que ao contrário de 1984, a pujança de Riachos hoje não parte tanto da indústria ou do comércio existentes, mas também deixou palavras de “louvor aos empresários que ainda resistem nesta terra e que continuam a investir no futuro”.
Mas a tónica que mais atravessou o discurso, contudo, tem a ver com aquilo que mais afecta a actividade da Junta e o desenvolvimento da freguesia: a relação com a Câmara e a negociação das transferências de competências para a freguesia, a selar em acordo brevemente.
Os representantes do município presentes, Pedro Ferreira, Luís Silva e Elvira Sequeira, ouviram o presidente da Junta a lembrar que “a dinâmica social da vila deve ser mais apoiada e valorizada exteriormente”, que “é importante olhar para o ambiente e para o património cultural”, e que “devemos olhar para a manutenção das infra-estruturas existentes e pugnar pela construção das que faltam”.
No que Simas chamou de “novo paradigma de actuação autárquica”, a relação entre as autarquias passará pelo “diálogo prático” com os agentes locais e pela implementação de “medidas conjuntas”, sublinhou. Câmara e Junta “autonomamente e em conjunto” deverão apostar em políticas de proximidade, pois “a função tutelar da Câmara não deve ser afectada pelo afastamento e, por vezes, desconhecimento dos problemas, factores que podem demorar a resolução dos mesmos”.
Num momento em que é preciso “deixar de parte o supérfluo e o acessório, desperdiçando meios e recursos cada vez mais escassos”, Simas abordou a necessidade de investir na área social, sobretudo devido às dificuldades do próprio País, que se reflectem agravadamente em cada local.
Riachos tem 4% do orçamento de concelhos com a mesma dimensão
Outro recado deixado ao município foi a questão financeira: “ser a única vila do concelho não chega, se não houver investimento sério e realista”. Simas enumerou concelhos como Golegã, Castelo de Vide ou Marvão, que poderiam ser equiparados à freguesia de Riachos, em termos de população, mas cujos orçamentos anuais (até 4 milhões de euros) não são equiparáveis ao de Riachos, apenas 4 a 5 % daquele valor.
“Será justa essa diferença?” questionou Simas. Na eterna procura de maior autonomia, à autarquia riachense não são permitidas “grandes opções em termos de planos de actividade”, disse, exemplificando com a insustentabilidade que a gestão dos espaços verdes representa para a Junta, nomeadamente quando o preço da água torna incomportável o esforço. “Vamos recorrer ao betão para colocar nas rotundas? Vamos pavimentar os parques, privando as crianças de uma vida saudável e em ambiente natural?”
Num apelo à Câmara Municipal para que acelere as delegações de competências através de acordos de execução e contratos interadministrativos (cujos contornos podem beneficiar mais ou menos a autonomia da freguesia) Simas evidenciou que a Junta, “mais próxima dos anseios e necessidades das populações locais”, pode ser mais eficaz a encontrar soluções que não necessitem de grandes investimentos públicos.
Por fim, deixou um recado aos órgãos de informação, lendo o texto de intenções fundador do jornal O RIACHENSE, publicado no número um, em 1908, em que ficou plasmada a independência política deste órgão e a sua importância na defesa do “bem da sua terra”.
“A autonomia tem de permitir que as pessoas sonhem”
A perda de autonomia das autarquias locais foi o fulcro da intervenção de Pedro Ferreira em Riachos, tema cada vez mais caro, de resto, a este autarca há mais de 20 anos em funções no município. O presidente da Câmara ilustrou dizendo que “se Riachos fosse hoje uma aldeia, duvido que passasse a vila”.
Falou ainda no eterno potencial por realizar em Riachos, cujo bom desenvolvimento teria consequências positivas no próprio desenvolvimento da economia nacional, por causa da boa localização, das infra-estruturas “brutais” que existem. Quanto à “parte social, já ninguém tem nada a ensinar a Riachos”, elogiou.
Evocação de Pedro Barroso e a Pereira Jorge
Alexandre Simas arrancou aplausos da audiência quando, no fim do seu discurso, enviou “um abraço solidário a um grande embaixador de Riachos”, o músico Pedro Barroso, seu amigo pessoal, evocando ainda outra figura pública riachense que se confronta, igualmente, com difíceis problemas de saúde, António José Pereira Jorge, presidente da Junta até 2001.