Uma Europa germanofilizada
Quando a política europeia adopta o insulto como forma de propaganda, talvez esteja na altura de refundar o mundo em que vivemos. O PSD e o CDS não discutem senão o factual. Nem uma palavra para esta política de descalabro dos últimos dois anos, nem a mais breve reflexão sobre o papel de criados de servir da banca e indústria alemãs, sob a tutela da dama de ferro neo-bismarkiana com fome de poder , a cidadã Merkl. Aos candidatos da Aliança Portugal só lhes falta a Cruz de Cristo das caravelas dos escravos que vendíamos, como os restantes europeus, um pouco por todo o lado, em nome da modernidade do capitalismo. Só que, com a Inquisição perdemos a relação com o capital, ganhando em fé totalitária e cerviz curvada, o que os outros ganharam com Erasmo de Roterdão e mais tarde, Lutero ou Calvino. Não só um olhar diferente e mais plural sobre a fé, como uma modernização do pensamento científico, que em Portugal foi encerrado em masmorras , onde mais de catorze mil sofreram o suplício, a desonra, a abominação, tudo em nome duma religiosidade assente no poder não só sobre os corpos e as almas, como nos bens de mão morta e nos privilégios régios . Ficou, desde então, um país enrodilhado na manta de trapos da resignação e do terror, as fronteiras fechadas por uma Espanha quase sempre hostil, ligada à casa de Áustria e , quantas vezes, à França, pelo nosso enredo de subserviência com a Inglaterra. Já não falo do que nos transformou em pátria pária dos grandes ,quando a Europa não passava de povos a quererem ser nações, mas o século XIX revela como , apesar do liberalismo com que se substituiu o absolutismo trauliteiro miguelista, nunca passámos da mula levada à arreata, ontem na Índia e no Brasil, naquele século em África, pelos mesmos comparsas históricos que hoje nos mandam a troika, o FMI, a Comissão Conservadora Europeia, onde Barroso traulita com toda arrogância dum MRPP convertido à conta bancária, esquecido do seu historial político na governança lusíada. E fica-nos sempre esse passado do século XX dum Salazar a assassinar um povo conscientemente analfabetizado em África, em nome dos interesses colonialistas dum grupo que soube unir, a partir do 28 de Maio, a cruz e a espada, com a bênção da bela dormecida das democracias europeias e americana. Sâo os seus descendentes, os seus lugares tenentes, os seus homens de mão, que nos venderam à Europa em nome da austeridade duma moeda , O Euro, mais falsa que Judas, pois ela é a alavanca pangermanista continuadora de Bismark, que Hitler desejava para um império de mil anos, e hoje o capitalismo neo-liberal germânico recoloca em toda a Europa de bruços como o seu feudo, com o euro, feito à imagem e semelhança do marco. Nâo há país que se aguente, nem fé que se teorize, num mundo à beira de colapso. Os países da Europa cerram-se ,abandonando os princípios da solidariedade e dos direitos sociais, como se ,ao fecharem-se no individualismo dos suas riquezas , algo mais atingissem que o seu próprio deslizar para o autismo . É isto que a aliança de Passos Coelho com Portas nos promete - é isto que Cavaco nos quer trazer da China . Um Portugal invertido. Não já a imagem decrépita do fim do império, mas uma imagem dum Portugal a brincar, um casino de Monte Carlo onde a Europa venha lavar os seus marcos, a troco dum mercado de escravos contemporâneos, para serviçais nos seus países. Duma Europa que ressuscita os campos de concentração com a mesma bonomia com que define políticas antidemocráticas, ao serviço de elites ao serviço dos ricos.
Quando no domingo for fazer a sua cruzinha no papel do voto, pense, meu caro concidadão, no que a cruzada Nun´alvares, perdão, a legião Salazar, perdão, a Aliança Portugal- Merkl, já lhe roubou,para pagar à banca alemã e francesa, aos interesses dos mercados especulativos , do seu vencimento, da sua reforma, do seu emprego destruído. E como se passou dum país duramente de Abril para um que, dizem os neo-capitalistas, angolanos, chineses, americanos, ingleses, alemães, outros menos às claras, mas na mesma vampiricamente esfomeados , é nosso, é nosso.
E vote, mais que não seja, pelos direitos cívicos ameaçados dos seus filhos.
22 de Maio de 2014
António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt