o riachense

Sbado,
27 de Abril de 2024
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Henrique Reis: "O município vai ter que se repensar, que se redimensionar"

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“Muitas vezes o Rodrigues tomou posições que mais pareciam de um homem de uma direita a lembar o passado ou de uma esquerda a lembrar o Staline, há estas duas vertentes nele. Ele conseguiu instalar em Torres Novas um regime”

“A primeira coisa que fazia era, não sei se fecharia a Câmara uma temporada, mas seguramente teria de fazer um levantamento exaustivo aos serviços todos da Câmara. Uma auditoria em condições”

“Se o PSD a nível nacional levar nas orelhas, será um problema deles, pela sua conduta enquanto governantes. Nos municípios, localmente, nós damos lugar aos nossos”

 

Os sete mandatos na Junta da Chancelaria fazem de Henrique Reis o maior dinossauro das freguesias no distrito. Aos 68 anos quer devolver a Câmara ao PSD.

 

Como caracteriza os 20 anos de PS e Rodrigues?

Penso que o Rodrigues teve duas fases. O trajecto inicial, quando no primeiro mandato nos ganha por uma minoria e aproveita tudo o que estava pré-definido. Tinha sido tudo definido no tempo do Casimiro Gomes Pereira e tinha sido conseguido pelo Arnaldo. E aproveita a circunstância de todo esse trabalho. Na minha opinião, foi o seu melhor mandato.

Quis fazer obra, assentou num princípio de um indivíduo que sabe o que quer. E daí resulta o seu segundo mandato, em que faz obra. No segundo, já com maioria, inicia aquilo que eu considero o seu grande momento de graça. Depois tem os outros mandatos, a partir da altura em que ganha a maioria, e algo muda, no município e na própria orgânica da Câmara. Isso é latente.

A partir do terceiro mandato foi um continuar de coisas, umas bem sucedidas, outras mal sucedidas, outras definidas em cima do joelho. E a verdade é que ele consegue transformar um concelho que tinha uma forma própria de estar na política. Muitas vezes o Rodrigues tomou posições que mais pareciam de um homem de uma direita a lembrar o passado ou de uma esquerda a lembrar o Staline, há estas duas vertentes nele. Ele conseguiu instalar em Torres Novas um regime, Torres Novas tem estado há muitos anos sob um regime. Mas a culpa não está só nele, está também nos seus eleitos, nos vereadores e naqueles que são o seu sustento na Assembleia Municipal (AM).

Neste último mandato e parte do anterior, Torres Novas perdeu muito. Reconheço uma parte muito boa, uma parte razoável e uma parte má, em termos de gestão, no seu todo.

 

Segundo a auditoria da Inspecção das Finanças (IGF), a Câmara empolou os orçamentos durante vários anos. O certo é que, sem esse empolamento, não teria conseguido fazer uma requalificação da cidade, da forma abrangente como a fez. Que avaliação faz desta táctica?

Penso que Torres Novas pagou caro isso. Torres Novas teve esse problema de querer somar ao bolo, quando o bolo já não tinha condições para suportar mais bolos. E foi um acumular de bolos. Eu estou à vontade porque sempre votei contra os orçamentos, porque sempre tive a percepção exacta daquilo que estava a acontecer. E tem vindo a acontecer de forma degradante, em termos práticos. Neste momento, Torres Novas está a pagar bem caro essa ousadia. Daí resultou um autêntico bloqueio financeiro ao município, daí não haver capacidade financeira sequer para fazer a gestão corrente, onde para ir comprar um metro de massas para tapar um buraco, não havia dinheiro.

Um indivíduo com um mínimo sentido de Estado, com um mínimo sentido de razoabilidade da coisa pública, nunca deixaria que as estradas do concelho se degradassem e levassem anos e anos e anos para serem acudidas. Quem é que paga com isto tudo? É o munícipe, o contribuinte.

Um castelo foi crescendo e não havia suporte e desmoronou. Quando nos apercebemos, estava já tudo de gatas. O relatório [da IGF] é catastrófico.

 

Os próximos anos vão ser só para pagar os investimentos feitos? Haverá soluções para arranjar receitas para fazer mais obra?

Ou o próximo executivo da Câmara tem elasticidade para ir à procura ou está condenado a parar. Não vale a pena termos ilusões. O município estrangulou completamente a faculdade que havia de crescimento. Penso eu que o município vai ter que se repensar, que se redimensionar, vai ter que haver algumas concertações. Penso que essa concertação tem que passar, na minha opinião, pelo acordo tácito entre os partidos na Câmara e na Assembleia. Tem que haver um entendimento entre todos, sob pena e risco de este mandato ser um mandato completamente de fricção.

 

Qual é a situação mais urgente que é preciso resolver no concelho?

A primeira coisa que fazia, não sei se fecharia a Câmara uma temporada, mas seguramente teria de fazer um levantamento exaustivo aos serviços da Câmara. Uma auditoria em condições. Depois, em face disso, com todos os vereadores, todos os representantes dos partidos na AM e com todos os presidentes de junta e diria-lhes: «meus amigos, o ponto é este, a partir daqui vamos encontrar soluções».

Estar aqui a dizer que o problema da poluição é o mais grave, ou outro qualquer… não posso dizer isso sem se fazer o levantamento.

 

Como resolver os casos graves de poluição identificados no concelho, em especial no percurso do rio Almonda e seus afluentes até Riachos?

Apesar de todos os condicionamentos da Câmara, tentar forçar junto da origem dessas fontes poluidoras. Quanto mais não fosse, chamar atenção para as pessoas, na sua qualidade de ser humano e na sua qualidade de cidadão, apelar no sentido de colaborarem. Tentava localmente, caso a caso, com as pessoas, ultrapassar a situação.

 

Quais as propostas concretas do PSD para contrariar o desemprego no concelho e a falta de dinheiro das pessoas?

Penso que Torres Novas deveria ter aproveitado a sua situação [geográfica] privilegiada. Torres Novas era considerado o centro do progresso. Está a dois passos de Fátima, que tem um potencial de turismo que é uma coisa anormal. Torres Novas não tira partido nenhum disso e tem condições excepcionais para mexer nessas áreas. Estou-me a lembrar: as pegadas dos dinossauros estão no concelho de Torres Novas, mas quem beneficia com aquilo? Ourém e Fátima. As grutas do Almonda, o castelo, as igrejas, os moinhos da Pena…

A maioria do potencial do turismo de Fátima foi para Tomar, Alcobaça, Batalha, Nazaré. Torres Novas está a ver passar navios há anos. O turismo em Torres Novas podia ser uma realidade. Os restaurantes podiam ter mais gente. Torres Novas, durante anos e anos foi uma localização de tasquinhas, de taberninhas… perdeu completamente esse tipo de características. Torres Novas precisa urgentemente de ir à procura de gente para investir.

Também em termos de zonas industriais: Torres Novas, Riachos, Entroncamento. Este circuito tem que funcionar.

Todos nós nos lembramos dos largos milhões de euros que entraram na indústria em Torres Novas. O que é que aconteceu às industrias? Chegaram, viram, venceram e fugiram. Isto aconteceu só por causa da crise nacional? Provavelmente vieram só à procura das ajudas comunitárias e depois, zarparam.

 

Riachos precisa de uma Casa da Cultura? Ainda é uma questão fracturante.

Se nós analisarmos friamente o que é Riachos, a dinâmica que tinha há 20 anos, a envolvência, a vida, [concluímos que] precisava de ter uma intervenção que fosse ao encontro do conceito de vila. E Torres Novas não tem tratado bem Riachos.

Se compararmos a dinâmica do Fernando Dias com a dinâmica dos presidentes de Junta dos últimos anos, é o mesmo que comparar uma noite de lua e uma noite de céu negro. Não tenho dúvidas nenhumas que, se Riachos tivesse uma Junta que se batesse, teria tido um pouco mais. Riachos tem que dar o salto. E numa altura destas, dificilmente o vai fazer. Porque tudo indicia que as coisas vão ser cada vez mais controladas e apertadas. O próximo quadro comunitário, se não houver alguém que consiga ir à procura de apoios fora de portas, dentro de portas vai encontrar muita dificuldade.

Riachos está num momento de encruzilhada. E uma coisa eu tenho a certeza, com o acordo tácito entre a Junta e a Câmara PS, Riachos não tem beneficiado absolutamente nada.

Com o nosso amigo Simas com a capacidade de saltar a rede, secundado pelo José Figueiredo a fazer as continhas, Riachos ficava com uma equipa de excelência.

 

As Juntas de Freguesia devem ser um braço das Câmaras ou devem ter autonomia para realizar projectos próprios? Em termos de estruturas básicas, onde está a linha que separa o que compete à Câmara fazer e às Juntas?

Isso é muito complicado de definir. Eu conheço presidentes de Câmara que não decidem nada sem ouvir em primeiro lugar o presidente de Junta. Conheço outros que primeiro decidem e depois informam. Eu sou presidente de Junta há muitos anos, pertenço à Anafre. Conheço presidentes de Junta do país todo, e falo com eles sobre a relação que têm com a Câmara, por isso é que eu digo: bons parceiros de eleição são os presidentes de Junta. Se um presidente de Junta fizer um bom mandato, eu também faço.

Se eu fosse presidente de Câmara, transferia muita competência para as Juntas. Eu não aceito que um cidadão que viva no norte do concelho, para fazer um muro tenha de ir à Câmara a Torres Novas pedir autorização. Há coisas que não fazem sentido. Antigamente quem queria tirar uma licença para cães, tinha de ir à Câmara. E foi o Henrique Reis que trouxe isso para a Junta, já lá vão 20 anos. A Câmara ficou prejudicada com isso? Não, e descentralizou.

 

A Turrisespaços parecer não ter viabilidade a longo prazo, mas o município nunca teve tanta e tão abrangente oferta cultural e desportiva. Qual é a avaliação que faz da empresa municipal?

A Turrisespaços pode ser um problema de hoje e de amanhã. Já o foi de ontem. Para todos os candidatos que não sejam do regime, fogem-nos completamente dados para nos podermos pronunciar com rigor. Gosto muito de falar daquilo que sei. É minha convicção que a Turrisespaços está exactamente como está o município. Primeiro analisar, e depois decidir. Dizer se é para extinguir, se é para manter, não faz muito sentido. Terá seguramente algumas vantagens para o município. Mas temos de pesar as vantagens e as desvantagens.

 

Dadas as dificuldades económicas que se avizinham, a sua candidatura gostaria de dar continuidade às intensas programações do Teatro Virgínia que fizeram de Torres Novas um caso raro de oferta cultural?

Não tenho dúvidas nenhumas que há coisas que estão bem conseguidas. Uma coisa o Virgínia comigo iria fazer seguramente. Torres Novas tem muitas bandas, muitos ranchos, tem uma série de culturas que deviam ser devidamente explorados e, digamos, lançadas. E o Virgínia seria um bom espaço. Isso seria promover Torres Novas e dar alguma sustentabilidade às bandas, aos ranchos, ao teatro, ao Choral Phydellyus, há uma série de coisas que podiam ficar bem.

 

Colaboração efectiva com municípios vizinhos, situações concretas que identifique.

Enquanto andamos em campanha eleitoral, cada um tem o direito de puxar a brasa à sua sardinha. Puxou-se a brasa à sardinha, o povo votou. A partir dali só tem que haver uma preocupação, é fazer o melhor possível.

Os concelhos nossos vizinhos devem ser entendidos como gente da nossa terra. Estamos rodeados por vários concelhos que têm todos os condimentos para que haja aqui uma boa centralidade. Nós éramos a centralidade e à nossa volta havia um jardim que não foi devidamente explorado. Mas azedaram-se as relações com o Entroncamento, com a Golegã… e andamos aqui.

 

A questão da A23. Manifestar uma posição de princípio é tudo o que as Câmaras podem fazer?

Torres Novas é um centro estratégico. Eu defendo o utilizador-pagador, porque não devemos ter a percepção de que tudo é de graça. Mas uma coisa é pagar o que se deve e outra coisa é pagar o que não se deve. Torres Novas está a pagar o que não deve. Deveria ser uma das prioridades, uma preocupação juntamente com os outros concelhos. Hoje as Câmaras têm algumas formas de criar uma pressão sobre as pessoas certas. No período pós-eleitoral devia haver uma concertação entre todos para, junto da tutela, se ultrapassar essa situação.

 

Não teme uma conotação prejudicial em termos eleitorais da sua candidatura com o governo? E se for eleito um executivo de maioria PSD, é de esperar um alinhamento com as políticas do Governo?

Não, são coisas distintas. Se o PSD a nível nacional levar nas orelhas, será um problema deles, pela sua conduta enquanto governantes. Nos municípios, localmente, nós damos lugar aos nossos. Não estamos a julgar quem está em São Bento, estamos a julgar quem está em Torres Novas.

Eu percebo que os partidos que estão do outro lado façam essa colagem, é o jogo da política. Mas, quer dizer, eu nunca fui deputado nem secretário de estado, nunca tive nenhuma actividade no meu governo. Ninguém deve ser julgado por aquilo que terceiros fazem. Eu sou vítima ou beneficiado de Lisboa, como todos nós.

Por isso nós apostámos na juventude, tenho hoje gente na lista que eu conheci na pré-primária. A lista para a Câmara é tudo gente 30/40 anos, que é para tentar perceber para onde é que sopra o vento. Porque a confrontação entre gerações também pode dar para cima ou dar para baixo.

Portugal tem o direito de ter cá a troika. Em nome da justeza e da clareza, acho que a troika devia ter subdelegações para chegarem aos municípios. Para perguntarem aos senhores dos municípios, porque é que deixaram crescer o endividamento das suas Câmaras. Recentemente alguém dizia, o PAEL paga tudo. Isso é uma ilusão. Aquilo não é dinheiro vindo do céu.

 

Falava-se noutro nome para encabeçar a lista do PSD, o que aconteceu e porque é que avançou o Henrique Reis? E a coligação, porque não avançou?

O capitão Pinto Reis foi-nos sugerido pelo CDS, na sequência de um acordo nacional de coligação. Foi entendido que para haver coligação teria de ser com um indivíduo independente. O PSD aceitou o nome. Fizemos um protocolo para a coligação, quantos lugares tinha o PSD, quantos lugares tinha o CDS, para as juntas de Freguesia… tudo alinhavado. Quanto tudo estava em vias de passar ao desfecho, o CDS decidiu retirar o apoio ao capitão Pinto Reis. Nós aceitámo-lo, apesar de ele estar hoje a fazer campanha pelo lado do PS… Daí ficámos um tempo em standby e depois tivemos que avançar.

Actualizado em ( Quarta, 25 Setembro 2013 16:42 )  
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