Prestes a iniciar a quarta época consecutiva no banco do Atlético (terceira como treinador principal), Pedro Monserrate era um homem quase feliz no fim do jogo de apresentação com o Nacional (0-3).
“Após uma semana muito intensa em que [os jogadores] treinaram principalmente a parte física, e que culminou no empate frente aos juniores do U. Leiria, só fizemos um treino para trabalhar a táctica, mais na parte defensiva”, disse o meiaviense aos jornalistas, no rescaldo do encontro de apresentação.
Com apenas meia dúzia de dias de pré-época corridos, tendo vários jogadores treinado apenas uma vez por causa das férias, e em que 13 deles têm menos de 22 anos, o treinador foi peremptório a afirmar que “a qualidade técnica e a vontade de trabalhar que eles apresentam, fazem deste grupo o melhor desde que estou à frente da equipa”. É sem dúvida “um lote de jogadores muito bom, que pode dar garantias neste campeonato”, resume.
Pois pudera! Frente a uma equipa profissional, que ambiciona chegar aos lugares europeus nesta época e que não poupou jogadores em Riachos, o Atlético só sofreu golos depois de começar a rodar a equipa. Em relação a essa fantástica primeira parte, Monserrate confessou: “Estou muito orgulhoso. Eles [Nacional] tiveram algumas oportunidades de golo, mas o essencial foi atingido, não sofremos golos”. E, acrescente-se, tivemos boa posse de bola.
Em relação ao empreendimento de preparar o plantel para jogar com equipas que têm orçamentos cinco vezes mais altos, na época que se avizinha, podemos dizer que o jovem treinador vai a caminho das nuvens, mas ainda não chegou lá: “não veio o ponta-de-lança que eu queria. Eu queria um ponta-de-lança mais fixo e alto, e os que temos são mais móveis. Temos o Freitas, mas lesionou-se no jogo com U. Leira e ainda é jovem”.
O plantel está completo mas não fechado, ou seja, há jogadores à experiência que podem ser trocados por alguma pérola inesperada que venha de fora, mas não é provável. Jackson, ex-Alqueidão da Serra, era o tal ‘pinheiro’ com que Monserrate sonhava, mas esse tipo de jogadores é precisamente o mais procurado. Não houve acordo (financeiro) com Jackson, disse o treinador, nem sequer o Atlético tem agora qualquer outro jogador da zona de Porto de Mós, para repartirem os custos das deslocações. Santana, o avançado que marcou golos e acumulou títulos quando passou por Riachos, era outro desejado. Mas está no Mação e é lá que quer ficar.
A verdade é que a presença no campeonato imediatamente anterior aos profissionais faz com que todos os dias haja empresários a ligar para o treinador a oferecer jogadores. Mas a política do Atlético continua a não ser essa: “vamos tentar aproveitar jogadores aqui da zona, é nisso que estamos a pensar, também porque queremos garantir o futuro do clube”.
O Nacional da Madeira tem lá um desses, um talento vizinho, e até jogou na terça-feira contra o Atlético. Miguel Rodrigues, defesa-central, foi companheiro dos jovens alvi-negros Prates, Rosa e Freitas nos juniores do CADE. Estes, aliás, são três excelentes exemplos do aproveitamento dos recursos endógenos. E mais três se estrearam na terça-feira com a nova camisola do Atlético, deixando água na boca ao povo que viu a sua prestação.
Voltando ao tema dos adversários complicados que o Atlético terá pela frente esta época; este ano a equipa técnica dispõe de um observador. Pedro Bouça, que foi adjunto na época passada, vai agora fazer o trabalho de espionagem dos adversários. Vai começar a fazê-lo já, assistindo a torneios amigáveis em que entram equipa com que o Atlético nunca jogou: “queremos estar minimamente preparados, para não entrarmos às escuras. Estas coisas são cada vez mais importantes”, reforçou Monserrate.
Manuel Machado: “Boa sorte e continuem o bom trabalho”
O Nacional da Madeira já tinha jogado duas vezes em Riachos (em 2000 e 2002, em jogos de apresentação), mas para Manuel Machado foi a primeira vez. O treinador falou a o riachense sobre a sua visão de fazer um jogo de treino contra um clube como o Atlético.
“Quando os processos ainda estão a ser implementados, é importante jogarmos contra todo o tipo de equipas; equipas da primeira liga, da segunda liga e do campeonato nacional de seniores. É igualmente importante jogar com todas.
(…) A minha filha estudava em Tomar, eu passava aqui, mas não conhecia a parte desportiva. Na parte logística, parece-me que têm os mínimos, as coisas estão arrumadas. Espero que façam uma boa temporada. Agora que estão numa prova mais exigente, desejo a maior das sortes e que haja competência para que, com trabalho, possam eventualmente chegar mais acima. O Arouca é um bom exemplo para clubes desta dimensão. Também veio dos distritais e agora vai jogar a melhor prova nacional, nada é impossível, nada é impossível. O Arouca é um bom incentivo para que as equipas pequenas percebam que, tomando as decisões mais correctas, tudo é possível no mundo, e no futebol também”.
Perguntámos também a Manuel Machado se gostava de treinar um clube grande. “Mais do que eu querer treinar um clube grande, eu gostaria que um clube grande gostasse que eu o treinasse. Parece igual, mas é muito diferente”, concluiu o treinador que já tornou lendários os seus jogos linguísticos.