o riachense

Sbado,
27 de Abril de 2024
Tamanho do Texto
  • Increase font size
  • Default font size
  • Decrease font size

Continua a greve de fome para denunciar Fundação Ecoservis

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF
 
A odisseia do casal francês Jean-Claude Rodet e Francine Fleury-Rodet por terras torrejanas terá começado, segundo os próprios, há mais de dez anos, quando uma carta assinada pelo padre João de Brito da Costa lhes terá prometido que ficariam à frente da Fundação Ecoservis, que veio a ser fundada em 2002, com sede na freguesia de Olaia, tendo como objecto a solidariedade social e a sustentabilidade ecológica.
O casal Rodet viria a mudar-se em 2012 para Pé de Cão com esse objectivo, trazendo consigo a sua experiência de professores, nutriterapeutas e uma reputação académica que os levou a vários países para participar em iniciativas de desenvolvimento da agricultura biológica, após centenas de publicações científicas em diversas áreas. Por cá, iriam fazer a supervisão da gestão agrícola das terras da Fundação, a formação do pessoal e a criação de uma equipa de terapeutas para um futuro centro de apoio a pessoas necessitadas e o apoio domiciliário aos idosos da paróquia de Olaia (Pé-de-Cão, Lamarosa, Barroca, Árgea, Chícharo e Valhelhas). Estas e outras ideias para a Fundação surgiram de muitos encontros ao longo da última década com o padre João de Brito da Costa, conhecido na região pela sua actividade de terapeuta de medicina natural.
O casal de franceses emigrado no Canadá trouxe consigo um centro de documentação com perto de 11 mil livros e documentos sobre “saúde natural, ecologia, agricultura biológica e nutrição”, destinado a constituir um fundo de apoio bibliográfico na Fundação.
No entanto, em meados do corrente ano, os Rodet alegam ter sido abandonados, sem que a Fundação Ecoservis tenha cumprido qualquer das promessas feitas e acertadas verbalmente: salário de acordo com as suas qualificações, uma casa e um carro, além das ferramentas e terrenos apropriados para desenvolver os projectos de agricultura biológica (Jean-Claude) e de apoio médico à população idosa e carenciada da freguesia (Francine). Possuidores de um carácter profundamente religioso e humanitário - assumiram-se paroquianos activos desde a chegada - dizem ter sempre dado toda a credibilidade à fundação e à retórica do padre, não havendo por isso nenhum compromisso assinado. 
Consideraram, então, que só lhes restava um acto radical de contestação, iniciando a 1 de Julho uma greve de fome, “um processo de acção não-violenta”, perante a “indiferença do padre e do imobilismo da Fundação Ecoservis”, não apenas para apoio das suas reivindicações mas também para denunciar o que dizem ser uma estratégia continuada de sedução e aliciamento de outros profissionais válidos, pelo padre João Costa, seguida do constante adiamento dos contratos e documentos prometidos, até chegar ao abandono total quando se torna evidente que os atingidos não desistem das suas reivindicações. Mas muitos terão desistido nos últimos anos e muitos terão medo de se expor contra um padre com ‘casa feita’ na região, segundo o casal.
Leonel Pereira é quem alberga o casal francês desde a recente expulsão da residência que lhes foi atribuída aquando da sua chegada a Pé de Cão. Residente na Lamarosa, diz também ter vindo para a Fundação há anos para um projecto de formação profissional de jovens, desde a agricultura à carpintaria. Com o tempo, a relação entre Leonel e o padre João Brito da Costa degradou-se por causa dos pedidos de melhores recursos, acabando por ser despedido com a alegação de que “não fazia nada de jeito”.
O casal dá mais exemplos de situações semelhantes, sempre atribuindo ao padre João Costa o incumprimento de promessas e o aproveitamento abusivo de vontades e disponibilidades.
O nosso jornal teve acesso a uma carta de um antigo vice-presidente da Fundação Ecoservis, Pedro Santos, em que é relatada a história da sua passagem pela Fundação, onde foi contabilista e agricultor. O engenheiro agrónomo de Lisboa explica ao pormenor muitos episódios sobre a gestão das actividades da Fundação que, no mínimo, serão de prática questionável, acusando-a de venda massiva de substâncias terapêuticas sem controlo contabilístico, responsabilizando o padre-terapeuta.
Pedro Santos, cuja relação com o padre começou por um aconselhamento clínico, diz, nas sete páginas da carta, que regressou a casa após o abandono do projecto agrícola pela Fundação, e nomeia várias pessoas que terão tido más experiências semelhantes. “O seu procedimento [de Brito da Costa] sucessivo de aliciar pessoas para um projecto que ele próprio não consegue realizar, provoca graves problemas nas vidas dessas pessoas. Foi o que aconteceu comigo, com a minha mulher e com outras pessoas que conheci”, termina a carta.
No momento do fecho desta edição, o casal Rodet já completava 22 dias de greve de fome (Francine em jejum, bebe água com limão e açúcar) e na semana passada foram colocados processos judiciais de parte a parte, apesar de o casal informar que prolongou ao máximo a tentativa de conciliação.

Diocese está a acompanhar a situação
O padre João Brito da Costa está sem atribuição de trabalho paroquial, mas continua a pertencer ao clero e vinculado à diocese de Santarém. O pároco de Olaia é, desde finais de 2012, Nuno Pena, que também está na paróquia da Meia Via.
A diocese de Santarém diz estar a averiguar a situação, e não põe em causa “nem um lado nem outro”, disse a o riachense Aníbal Vieira, mas adiantou que o padre tem o seu trabalho paroquial limitado por causa da sua saúde. A atitude reservada da diocese deve-se a estar agora a surgir tanta gente a corroborar a versão do casal Rodet, quando anteriormente “nunca nos chegou o mínimo eco de situações destas”. Apesar do caso estar a ser “acompanhado”, o padre responsável pela Fundação não foi suspenso pela diocese, que ressalva que a Ecoservis é uma entidade privada e não tem nada a ver com a Igreja. O estatuto de IPSS implica que sejam as Finanças e a Segurança Social a tutelar a sua actividade.
O vigário geral Aníbal Vieira esteve junto do casal no princípio do protesto, já em Julho, dois meses depois de ter sido feita queixa do padre Brito da Costa à diocese, mas desde então não houve mais contactos. Para obter reacções da Igreja, o protesto estendeu-se a Santarém na semana passada, com uma manifestação pacífica de informação em frente da Sé, enquanto decorria uma ordenação de sacerdotes.
O pároco Nuno Pena revelou-nos, entretanto, que conheceu Brito da Costa quando foi colocado na paróquia de Olaia no fim do ano passado, e que este sempre foi muito correcto, simpático e cumpridor do trabalho paroquial que lhe foi sendo pedido, que nada tinha a ver com a actividade que ele tinha na Fundação. Nuno Pena diz que Jean-Claude Rodet também é uma pessoa boa e séria, com muitas competências e muitos conhecimentos na região. Ainda assim, aconselha: “ninguém tem a culpa toda nem ninguém é isento de culpas, tem é de se apurar a verdade, doa a quem doer”.

“Campanha difamatória e caluniosa” diz a Ecoservis 
As nossas tentativas de contacto com o padre João Costa foram frustradas, tanto pessoalmente, visto que terá passado uma temporada nos Açores, como através da Fundação Ecoservis. 
Entretanto, a Ecoservis enviou um comunicado à imprensa no dia 18, em que refuta todas as acusações e que os factos por si defendidos poderão ser “demonstrados de forma pacífica”, contra a “campanha difamatória e caluniosa dirigida à Fundação, seu presidente e órgãos sociais”. 
Assinado pelo vice-presidente José Santos, lê-se no documento que “não é verdade que em momento algum a Fundação ou os seus legais representantes tenham contratado, formal ou informalmente, o casal Rodet para vir trabalhar” e que nem sequer os convidaram, negando também ter oferecido qualquer das condições alegadas (casa, carro, salário, alimentação).
A Fundação acusa os Rodet de oportunismo e de terem apenas o interesse de conseguir uma indemnização financeira. Como IPSS, a Fundação “concentra os seus reduzidos recursos financeiros na ajuda aos mais necessitados, nomeadamente idosos e nos doentes, e reafirma a sua vontade e desejo de continuar a cumprir o seu objecto estatutário, não cedendo, nem a ameaças, nem a chantagem do casal Rodet”. 

Actualizado em ( Sexta, 26 Julho 2013 15:54 )  
{highslide type="img" height="200" width="300" event="click" class="" captionText="" positions="top, left" display="show" src="http://www.oriachense.pt/images/capa/capa801.jpg"}Click here {/highslide}

Opinião

 

António Mário Lopes dos Santos

Agarrem-me, senão concorro!

 

João Triguinho Lopes

Uma história de Natal

 

Raquel Carrilho

Trumpalhada Total

 

António Mário Lopes dos Santos

Orçamentos, coisas para político ver?
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária