o riachense

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Morreu Palma Inácio

FARPADAS – Julho de 2009

 

Morreu Hermínio da Palma Inácio. Morreu um dos homens que mais contribuiu para a transformação de Portugal: de uma ditadura fascista passou a uma democracia representativa. Embora o dia 25 de Abril de 1974 tenha sido o dia mais importante nessa transformação, não foi só nesse dia que a transformação foi conseguida.

A luta pela democracia começou muitos anos antes e terá de ser sempre continuada. Assim como os amigos da ditadura nunca desistem, assim também é preciso que os democratas nunca adormeçam na luta pela construção da democracia, sob pena de serem democratas-não-praticantes e assim contribuírem para a implantação de uma nova ditadura.

Desde o dia em que o conheci pessoalmente, em Janeiro de 1971, até ao dia em que fui preso, em Agosto de 1973, poucos foram os dias em que não estive com ele. Só quando um de nós, ou eu ou ele, estava ausente de Paris, é que não estávamos juntos. Foram mais de dois anos e meio de intenso convívio, que me deixaram as melhores recordações e que tiveram, e espero que continuem a ter, uma grande influência na minha vida. Positiva, creio eu.

Quando o conheci e ele soube que eu sou de Riachos, contou-me que tinha vindo à nossa terra mas que teve azar. Quando ele estava na tropa, creio que no verão de 1945 ou 46, na aviação, tinha um amigo que era de Riachos e que um dia o desafiou para virem ao campo aos melões. Pegaram num avião e vieram. Pousaram no campo, comeram melões, e carregaram o avião para levarem melões para a base. Levantaram voo, mas como nestas coisas há sempre um mas, resolveram fazer algumas acrobacias para delícia daqueles que em terra lhes haviam dado os melões. O problema é que, quando eles faziam voo picado, um dos melões rebolou e trancou um pedal. Conclusão: caiu o avião, os passageiros e os melões. O avião ficou espetado no chão e eles ficaram alguns meses no hospital para concertarem os ossos partidos. Eu conhecia a história, também tinha ido ver o avião com os outros cachopos, só não conhecia o segundo elemento. Conhecia só um que era de Riachos e morava ao cimo da Rua Nova.

Em 1947, o Palma entrou num golpe militar contra a ditadura de Salazar. O golpe falhou. Só ele levou a cabo a acção que lhe destinaram e por isso foi preso. Conseguiu fugir da cadeia do Aljube, e depois nunca mais desistiu de lutar pela Liberdade, pela Igualdade e pela Fraternidade. Até que a morte o levou. Doente, passou os últimos anos de vida num lar para idosos. Porque a sua reforma era pequena, foi preciso que alguns amigos contribuíssem para pagar a estadia no lar. A pessoa mais honesta que eu conheci foi o meu pai. Mas, felizmente, conheci outras pessoas tão honestas como o meu pai. Uma, foi o Hermínio da Palma Inácio. Nasceram os dois no mês de Janeiro e morreram os dois no dia 14 de Julho. O meu pai com 86 anos e o meu Amigo Palma com 87. Morreram os dois no dia em que comemoramos a luta pala Liberdade, Igualdade e Fraternidade entre todos os seres humanos. O Palma é um dos meus heróis, e espero continuar o resto da minha vida a lutar contra os ditadores e os democratas-não-praticantes. Para que a vida das pessoas seja melhor todos os dias.

Não quero acabar este texto sem, mais uma vez, voltar a dizer que é melhor termos este jornal do que deixarmos que ele acabe. Mas só com a colaboração de muitos é que será possível mantê-lo. O jornal precisa do dinheiro que talvez nos faça falta. Por isso aqui fica mais uma vez o meu apelo. Se muitos de nós contribuirmos, é possível arranjar o dinheiro necessário para que o jornal não acabe. Para que não sejamos também democratas-não-praticantes. Um grande abraço a todos.

Actualizado em ( Quinta, 27 Janeiro 2011 14:56 )  
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