PalhaçosÂ
Palhaço?...palhaço era o meu querido Raul. Trapalhão, gago, inventivo,
genial nas horas, certeiro na seta acerada e pronta da critica mordaz.
Esse sim sempre habitou Belém, como eu, que sofro do mesmo mal do coração.
Palhaço era o Luciano, honrado funileiro de profissão com quem ainda actuei
na Serra da Estrela um dia - era ele um velho senhor com mais de oitenta
anos já, de uma honradez e humildade imensa. E me explicou de onde vinha o
termo "augusto soiree". Hoje "palhaço" - profissão de fazer rir. ...e
tambem era do Belem...
 Palhaço era o Añuka, no Coliseu da minha infância, que nos fazia rir e
ganhava sempre em esperteza aos palhaços ricos de cara pintada.
Palhaço era Popov, que, com um simples uivo denunciava o abuso, soltava a
imaginação e despoletava o riso e a ternura.
Palhaço sou eu; são os artistas todos do mundo, cada vez q sobem a um palco
e se expõem no q pensam; e circunstanciam o verbo à inteligência possÃvel e
dobram as palavras sentidas do poema e tocam as tangencias sensÃveis da
harmonia.
Mas o simples facto de habitar Belém ainda não é suficiente para atingir
essa dignidade.
Não ofendam os palhaços.Â