Quando na manhã do primeiro dia útil do ano os riachenses olhavam, estremunhados
, para o fio de água que lhes saía das torneiras, que nem chegava para fazer funcionar os esquentadores (e muitos juram ter ainda ouvido nas suas costas umas vozes escarninhas que rosnavam “aguenta, e vai-te habituando que ainda hás-de aguentar mais”), devem ter achado que aquela era a melhor metáfora para o ano que assim começava.
De facto, na história dos portugueses vivos poucos anos se terão apresentado tão pouco animadores como 2013. Neste início de ano, e para lá das preferências partidárias e das posições ideológicos de cada um, já muito pouca gente acredita num governo que junta, de uma vez, incompetência, arrogância, revanchismo, insensibilidade e falta de estratégia, apostado apenas em cumprir as ordens que lhe chegam dos credores internacionais e de quem tem interesses próprios na exploração desta crise forçada. Uma coisa será querer organizar um país com novos princípios, e aí os portugueses fizeram a sua escolha em eleições, outra coisa é aproveitar as fraquezas de uma sociedade ainda débil e em construção, que isto demora mais tempo que se julga, para sugar tudo o que for possível em proveito próprio.
Basta ver os números, recentemente divulgados, que nos dizem que no meio da desgraça que já foi 2012 para quase todos os portugueses, as sete maiores fortunas nacionais aumentaram a sua riqueza em mais de 13%...
Não são boas as expectativas para os próximos meses. Mas não temos dúvidas que as condições de concretização dessas ameaças serão tanto piores quanto mais abdicarmos de gerir autonomamente as nossas vidas, de pensar pelas nossas cabeças, de reflectir sobre o que nos for acontecendo, de confrontar propostas e opiniões.
É por isso que nos parece justificar-se a continuidade d’ o riachense e dos outros jornais locais que ainda constituem plataformas de informação e de discussão essenciais para nos entendermos como sociedade. É o nosso contributo possível para que continue a haver pensamento crítico, plural, empenhado e informado, numa região que, mesmo não estando escondida no abandonado interior do País, vai sentido cada vez mais o drama do empobrecimento e do definhamento económico, social e cultural. Apesar de continuar a haver quem teime em investir, em criar e em pensar; estes, particularmente estes, bem precisam que haja quem possa dar visibilidade aos seus esforços, às suas ideias, aos seus projectos.
Estamos aqui para isso, mesmo sabendo das dificuldades que se avizinham. Contamos com os nossos leitores, como os principais aliados nesta tarefa.
6 de Janeiro